Estimulado por Beto Faro, o mais barbalhista dos petistas, governador acreditou que poderia brecar a intenção do Psol de lançar candidato próprio, mas não precisa se preocupar com isso: o professor Adolfo Neto reza pela cartilha do chefe de Gabinete da gestão Ed 50, Aldenor Júnior, segundo a qual manda quem pode, obedece quem tem juízo/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

“Adolfo foi escolhido porque, diferente do vereador Fernando Carneiro ou da professora Silvia Letícia, presidente licenciada do Sintepp-Belém, sabe receber ordens e é obediente ao comando”.

Por Olavo Dutra|Colaboradores

Fundado em 6 de junho de 2004, após a expulsão dos parlamentares do PT Heloísa Helena, Babá, João Fontes e Luciana Genro, o Psol nasceu para ser oposição. A sanção que deu origem à expulsão dos parlamentares foi política. Foram expulsos porque criticavam o governo Lula, votavam contra a orientação do governo e denunciavam a corrupção petista, que ao fim e ao cabo tomaria as manchetes nacionais, em 2005, quando do escândalo do chamado “mensalão”. O grupo de Edmilson Rodrigues, que estava sem mandato naquele momento, saiu do PT e optou por seguir os parlamentares expulsos, que decidiram fundar um novo partido de esquerda, “radical e socialista”, como dizia o deputado paraense Babá, que migrou para o Rio de Janeiro naquela ocasião.

Animado pelo discurso da “ruptura revolucionária com a ordem instituída”, o Psol nasceu e se consolidou como oposição “a tudo o que está aí”. Governar nunca esteve no horizonte da legenda.

Em 2017, a editora Boitempo, associada à Fundação Lauro Campos, do Psol, lançou o livro “Cinco Mil Dias – o Brasil na era do lulismo”. A publicação tem por objetivo desancar os governos Lula e Dilma. O capítulo escrito por Edmilson Rodrigues, “A Amazônia nos tempos do lulismo”, eivado de cacoetes academicistas, dedica-se a denunciar a destruição do meio ambiente e o cerceamento aos povos da floresta, empreendidos por Lula e Dilma, com foco em Belo Monte e na crítica da matriz energética baseada em hidrelétricas. A leitura do texto não abre margem para entender, fora do oportunismo eleitoreiro, como Edmilson e seu grupo abraçaram Lula e seu projeto de modo acrítico e apressado nesse instante.

O pano de fundo desse entendimento é a mudança na matriz do projeto sobre o qual o partido lilás se criou. Ao migrar de um partido crítico, oposicionista e reivindicatório para um partido da ordem e da institucionalidade, o Psol local perdeu o seu rumo. E agora faz de tudo para se manter no comando da máquina, usufruindo do poder que  manipular grandes contratos lhe autoriza.

Sem estragos ao patrão

Todos sabem que sem o auxílio luxuoso de Helder Barbalho o atual prefeito de Belém não seria Edmilson. Helder se dedicou à engenharia que levou Edmilson ao comando da cidade não por acreditar na competência do ex-prefeito, mas por imaginar que seria mais fácil manter um partido pequeno sob seu controle manobrando com maestria os repasses estaduais para uma prefeitura combalida.

E o que Helder esperava no Psol governante era simples: a abstenção do pequeno partido na disputa majoritária em 2022. Influenciado por Beto Faro, o mais barbalhista dos petistas, Helder acreditou que isso fosse possível. Mas, como na velha canção de Erasmo Carlos, Edmilson tem que manter a sua “fama de mau”. A última rodada de negociação com Helder, ocorrida no final de junho, levou o Psol a confirmar candidatura própria, mas colocar na vaga ninguém que pudesse efetivamente produzir algum estrago ao patrão. Silvia Letícia, Fernando Carneiro ou José Nery poderiam embalar o sonho da extrema esquerda de combater o barbalhismo, então se buscou internamente o nome do laranja ideal.

Na sexta-feira, o laranjal deu flor. A Conferência Eleitoral do Psol aprovou o nome do professor Adolfo Neto como candidato ao governo do Pará nas eleições de outubro. Na ocasião, também foi aprovado o apoio à candidatura do deputado Beto da Fetagri Faro (PT) para o Senado.

Com essa decisão, o Psol atropelou a Rede Sustentabilidade, partido que integra uma federação com o partido de Edmilson e ficou sem chance de indicar qualquer dos nomes na chapa majoritária.

Quem é o laranjinha

Adolfo Neto é introspectivo e mimetiza Aldenor Junior, o primeiro ministro de Edmilson, até nos gestos. Como fiel escudeiro do chefe de Gabinete da Prefeitura de Belém, se tornou presidente estadual do Psol no Pará. É professor de geografia na UFPA. Iniciou militância na instituição federal de ensino, fazendo parte do movimento estudantil. Formou-se em pedagogia pela Uepa e em geografia pela UFPA. 

Obediência ao comando

 Adolfo Neto, o laranjinha perfeito, é atual presidente do Psol do Pará, e teve a candidatura aprovada por ampla maioria, com 68% de apoio dos votantes. Além de Adolfo, a conferência recebeu outros nomes, como o da professora Sílvia Letícia e do vereador Fernando Carneiro. “Adolfo foi escolhido porque, diferente de Fernando ou Silvia Letícia, sabe receber ordens e é obediente ao comando. Tem a intenção de crescer e ganhar uma secretaria na prefeitura se fizer o que Aldenor Júnior e Edmilson mandam”, disse uma fonte do partido que pediu para manter seu nome em sigilo.

Sete disputam governo

Até o momento, são sete candidatos ao governo do Pará. O MDB, que já realizou convenção estadual no dia 26, anuncia a composição da coligação majoritária para candidatura ao governo do Estado no Mangueirinho, dia 5, sexta-feira, a partir das 17 horas.