A primeira dama Eliena Ramalho aparece em vários eventos e páginas oficiais da Prefeitura de Bragança como secretária de Trabalho e Promoção Social, embora tenha sido exonerada do cargo um mês antes, para supostamente garantir a empresa da família em concorrência pública do Estado/Fotos: Divulgação-Redes Sociais
Infame “jeitinho” é usado como recurso em Bragança como forma de burlar a legislação e permitir que a empresa Rodoplan seja habilitada em concorrência pública, embora legalmente impedida; jogo de cena deve ser investigada pelo Ministério Público do Estado.
A regra é clara: a participação da atividade de empresário é vedada a ocupantes de cargos ou funções públicas, como deputados federais, senadores, vereadores, prefeitos e secretários (…), sob pena de nulidade do procedimento licitatório. No Pará, contudo, lei é potoca – que o digam o prefeito de Bragança, Raimundo Oliveira, o secretário Adler Silveira e toda a Comissão de Licitação da Secretaria e Transporte do Estado.
Dona da empresa Rodoplan, a primeira dama de Bragança, Eliena Ramalho Dias foi exonerada do cargo de secretária de Trabalho e Promoção Social pelo marido no melhor estilo vapt-vupt, no dia 28 de abril, mas anotícia foi publicada pela prefeitura dia 11 de maio, sob o número n° 052-A.
A medida não se explica pela remota possibilidade de Eliena não atender à administração municipal, mas porque, supostamente, precisa se livrar do cargo que ocupa há bastante tempo – com direito a publicações nas páginas oficiais da prefeitura – para garantir a participação da empresa da família no resultado final da licitação lançada – e em curso – pela Secretaria de Transporte para execução de obras na região e além.
O anúncio do resultado do certame estaria dependendo “apenas” dessa arrojada medida do prefeito “contra a própria mulher”.
Gambiarra oficial
Não à toa, a exoneração da primeira dama tem data retroativa ao início da licitação da Secretaria de Transportes, que, atropelando a legislação, poderá habilitar a empresa Rodoplan a mais um grande negócio. O documento oficial publicado no site da prefeitura no dia 28 de abril deixou rastros inapagáveis: a primeira dama teve atuação comprovada como secretária de Trabalho e Promoção Social até o dia 13 de maio em eventos oficiais da prefeitura e do governo do Estado.
Rastros do cargo
Recentemente, assessores não oficiais do prefeito Raimundo Oliveira deram saltinhos de satisfação ao anunciar a decisão do gestor de contratar um grupo de advogados para cuidar da sua área jurídica, mas, infelizmente, se depender dessa banca, o desligamento da primeira dama não confere com os eventos oficiais dos quais participou como secretária no dia 3 de maio, por exemplo – a abertura da “Conferência das Cidades”, promovida pela Secretaria de Planejamento local, conforme consta nas páginas oficiais da prefeitura.
Segue o andor
No dia 4 do mesmo mês, o vice-prefeito, Mário Júnior, tido e havido como candidato à sucessão de Raimundo Oliveira anunciou, no lançamento do Programa de Aquisição de Alimentos-2023, evento da própria Secretaria de Trabalho e Promoção Social, a primeira dama Eliena Ramalho como secretária da pasta – está nas redes sociais – e, no dia 12, lá estava a secretária participando do evento em que alunos de um projeto socioeducativo homenagearam o Dia das Mães.
A super agenda da primeira dama se estendeu ao dia seguinte, 13, quando participou da assinatura da ordem de serviço para a construção da Usina da Paz no município, com a presença do governador.
Crônica anunciada
Como no conto de Gabriel Garcia Marquez, “Crônica de uma morte anunciada”, em que a história, recontada um ano depois, revela que várias pessoas poderiam ter impedido o assassinato de Santiago Nasar, mas ninguém fez nada, em Bragança, nem o prefeito Raimundo Oliveira, nem o vice, Mário Júnior e nem ninguém se lembrou que a secretária deixara de ser titular do cargo em data retroativa.
Resumo da ópera: essa simulação com jogo de datas nada mais é do que uma falsa dança das cadeiras na administração bragantina para ludibriar a lei, mas poderá – e deve – ser investigada Ministério Público do Estado.
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Papo Reto
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