A pesca está tão sem controle que a multinacional Netuno, líder mundial do setor, instalou unidade em Bragança com a participação do empresário pernambucano e presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado e da Câmara Setorial do Pescado do Ministério da Agricultura, Eduardo Lobo. Lacrada pelas autoridades por falta do SIF, a empresa volta a operar dia 1º de maio/ Fotos: Divulgação.

Uma frota gigantesca está praticamente pronta para zarpar a partir de Bragança, dia 1º de maio, para mais uma temporada de pesca predatória do pargo. É a abertura oficial da temporada que, de tão escandalosa, vem sendo denunciada pela própria população da região. Mas, ao contrário do que se tem noticiado, o número de embarcações licenciadas para a captura da espécie no Pará chega a 160, porque a clandestinidade também invadiu o setor, sobretudo em Bragança, que concentra atualmente a quase totalidade da frota pesqueira de pargo, com 450 barcos, sem contar as inúmeras embarcações sem licença provenientes do Estado do Ceará.

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Espécie tende a desaparecer

Segundo especialistas em Belém, e os próprios pescadores da região bragantina ouvidos pela coluna, a constatação é de que o pargo vem “diminuindo em quantidade e tamanho” e tende a desaparecer da costa paraense em pouco tempo, da mesma forma que já desapareceu no Ceará, por conta da pesca predatória, da ganância e da ausência de consciência, mas, sobremodo, pela absoluta falta de fiscalização por parte dos órgãos que têm por responsabilidade institucional coibir os atentados ao meio ambiente e aos que trabalham dentro da lei.

Indústria conspira contra Estado

Outro detalhe que poucos ousam questionar: para onde tem ido a produção ilegal do pargo paraense? As autoridades ou não sabem, ou fingem não saber que essa produção tem sido “esquentada” pelos próprios barcos legalizados, muitos deles chegando a declarar capturas além de suas próprias capacidades. Atualmente, os EUA compram cerca de 90% da produção de pargo que sai do Pará, mas só o fazem mediante certificação de origem do produto. Nas entrelinhas, fica claro que indústrias pesqueiras aqui instaladas contribuem e conspiram contra a natureza e os interesses do Estado.

Multinacional se instala no Pará

Quais seriam os reais interesses de uma empresa da dimensão da multinacional Netuno, um dos líderes mundiais em pescado, montar em Bragança um gigantesco tentáculo chamado Prime, curiosamente, pelo que se comenta, com participação acionária de ninguém menos do que Eduardo Lobo, empresário pernambucano e presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado e da Câmara Setorial do Pescado do Ministério da Agricultura, além de membro de todos os comitês do ordenamento pesqueiro do País?

“Lacrada”, mas já reativada

Meses atrás, a indústria Prime chegou a contratar pessoal e iniciar irregularmente o beneficiamento de pescado – principalmente pargo, em pleno defeso – em Bragança, mas, após denúncia, acabou lacrada pela Superintendência da Agricultura no Pará por nada menos do que ausência do documento chamado SIF, ou Serviço de Inspeção Federal. Contudo, ante a nova temporada que se avizinha, a empresa anunciou que voltará a operar, só não se sabe pela “graça” de quem.