A Convenção do MDB, semana passada, parece ter sido o ápice da inédita forma de governar introduzida no Estado sob o comando do governador Helder Barbalho. O evento, como amplamente noticiado nas redes sociais, impôs a servidores públicos a obrigação de comparecer em caravanas formadas inclusive por policiais civis e militares, com camisas, faixas e bandeiras em apoio à coroação. Até documento oficial foi produzido para avisar que o expediente naquele dia seria reduzido nas repartições públicas devido à convenção do MDB. O que pareceu ter sido uma afronta à legislação eleitoral, não o foi para quem de direito.
‘Tarado’ por política
Helder poderia ser chamado de workaholic, mas não é. Trabalhador político compulsivo lhe cai bem. Define o homem que jamais fez outra coisa na vida senão política, em que se especializou estranhamento de maneira nada republicana, batendo o próprio pai, o atual senador Jader Barbalho, de braçadas. Pouco se lhe dá se precisar dividir favores com adversários ávidos por reeleição e benesses. Os resultados da gestão para o povo sofrido do Pará, contudo, não correspondem aos arroubos. No fundo, no fundo, suas bondades parecem carregar a infame impressão de que dá com a mão direita e toma com a mão esquerda – a ordem das mãos não altera a impressão que passa.
Um legado de vazios
Se, desgraçadamente, Helder não tivesse convertido apoios para despontar com possível reeleição em primeiro turno, disputando com adversário a altura – sem desmerecer os que aí estão -, e, de novo desgraçadamente, não se reelegesse, seu governo não deixaria legado. Legados políticos são, via de regra, obras – obras estruturantes capazes de tirar o Pará do atraso, de minimizar problemas crônicos que afetam uma população que só vê sair e nada entrar para compensar a exploração de suas riquezas, como a mineral e a madeireira que, um dia, haverá de se esgotar.
A gestão Helder Barbalho, com todo o respeito, não tem obra de destaque. O governo andou se atrapalhando nas próprias pernas em meio à pandemia e elevou o Pará à condição de vilão no uso de recursos públicos, com escândalos e desvios impressionantes. Nem BRT, nem Mangueirão, nem pontes. Nada se consolida, como se as empreiteiras não acompanhassem os passos frenéticos do governador, que optou por pagar caro por apoios que incluem o que um dia foi a grande mídia.
Convencer pela dor
Com tanta propaganda, fica difícil convencer o distinto público sobre o “sucesso administrativo”. Fica difícil imputar avanços na área ambiental quando as taxas de desmatamento do Estado cresceram exponencialmente nos últimos três anos. Fica difícil convencer sobre redução de criminalidade, quando não se sabe a forma de coleta dos dados que a coloca em baixa. Então, o que foi feito em favor do povo do Pará?