Por Olavo Dutra | Colaboradores
A se escolher um esporte para estabelecer a comparação pretendida entre pai e filho, o mais próximo seria atribuir ao filho um esporte mental: o pôquer.
Nem todo mundo sabe, mas reza a lenda que a primeira formação do hoje senador Jader Barbalho foi Educação Física. Afeito ao atletismo, o depois governador do Estado tinha por hobby o pugilismo, esporte de contato em que os oponentes usam os punhos para atacar e os braços e os punhos para defender, objetivando mandar o adversário à lona de forma a que ele não tenha mais condições de reagir.
O gosto pelo pugilismo pode ter sido fundamental na definição do estilo de política que Jader Barbalho praticou ao longo do tempo, sempre confrontando de maneira franca seus contadores. Como governador agregava aliados, mas não abria mão de cultivar oponentes e sempre os enfrentava em campo aberto. Uma frase cunhada e repetida muitas vezes pelo hoje senador define seu estilo no ringue e na política: “Um homem sem inimigos é um pusilânime”.
Helder Barbalho herdou muito da aptidão política do pai, mas não herdou nem uma nesga de seu gosto pelo pugilismo e pelo confronto aberto com os oponentes. Para ele, dar e receber socos está fora de cogitação. A se escolher um esporte para estabelecer a comparação pretendida entre pai e filho, o mais próximo seria atribuir ao filho um esporte mental: o pôquer.
Assim como os demais esportes intelectuais, o pôquer possui uma relação muito próxima com a Matemática. Os jogadores precisam usar os números para saber quando agir de maneira mais agressiva, ou conservadora, com o menor risco possível. Não é um jogo de azar, mas um jogo de probabilidades, o que acaba levando os jogadores a lidar com números, porcentagens e frações. Especialistas ouvidos pela coluna dizem que se trata de um laboratório para refinar habilidades de vida, como análise de risco, leitura de pessoas e construção de estratégias.
Cartas na manga
Helder Barbalho não revela suas cartas. Ele pratica o pôquer tentando prever como os agentes políticos, aprisionados em seu carteado, se comportarão em cenários de estresse – as próximas eleições -, que exigirão a tomada de decisões mesmo que as informações disponíveis para respaldá-las sejam incompletas.
Muitos analistas abstraem a relação entre pôquer e poder, entre o jogo e a política, entre o cálculo e o prognóstico, embora a teoria dos jogos estabeleça o chamado de Equilíbrio de Nash, um estado estável no qual nenhum jogador pode ganhar vantagem por meio de uma mudança unilateral de estratégia, considerando que os outros participantes também não mudem o que estão fazendo. Isso se tornou ainda mais dramático quando todos os jogadores estão debruçados sobre a mesma mesa.
Domínio da cena
Se Helder estudou ou não os fundamentos é irrelevante. A montagem de seu novo secretariado mostra que ele os domina.
Conforme a coluna antecipou, depois de prometer um “governo de perfil técnico” em sua primeira entrevista após a eleição – para o canal G1 -, Helder fez justamente o oposto: deslocou quase todos os técnicos para postos de segundo escalão e fez dos primeiros escalões uma exposição gritante de sua disposição para o equilíbrio de elementos tão distintos quanto Usula Vidal, à esquerda, e Giovanni Queiroz, à direita, tendo no meio uma ampla variedade de interesses, siglas e perfis ideológicos.
O alvo e o tiro
O centro do jogo de Helder é sua sucessão e a introdução da candidatura do primeiro irmão Jader Filho, agora instalado em um dos ministérios mais ricos e prestigiados da Esplanada. Faz parte desse cálculo a presença de Hana Ghassan na vice-governadoria. Ela garante que os cálculos todos serão feitos com precisão e profissionalismo.
Além das relações de confiança pregressas que remontam de sua presença na equipe de Helder na Prefeitura de Ananindeua, a perfomance da contadora à frente da Secretaria de Planejamento garante seu lugar na alta esfera do carteado palaciano.
Receita duvidosa
A própria realização da COP-30, dentre outras entregas grandiosas e urgentes, não inibiu o jogador de apostar no fisiologismo político como receita para a mediação de conflitos. O resultado? Helder e seu séquito acreditam que, pela Importância do evento para a imagem do País, o governo Lula não deixará que seja um fracasso, mesmo que o time de veteranos e novatos que montou não apresente nenhum espírito de equipe.
Credenciais, por favor?
Espanta muita gente que entre os mantidos ou retornados, guardadas as exceções que saltam aos olhos, falta à maioria deles as credenciais mínimas para o cargo que irão ocupar. Dos novatos, com exceção de Rossieli Soares – Secretaria de Educação, por indicação de “cota política” de Michel Temer -, quais as credenciais dos demais?
Que habilidade para gerir esporte e lazer tem o herdeiro político Cássio Andrade? Talvez faça sentido o geólogo Nilson Pinto no Ideflor-Bio, mas, e o corretor de imóveis Hélio Leite à frente da ciência e tecnologia? O ex-senador Flexa Ribeiro deve saber o que fazer na recém criada Gaspará, mas nem o próprio José Fernando Gomes Jr sabe a razão de ter ido parar na Cosanpa. Por qual motivo a sanfona do pai levou Raimundo Santos Jr para a Ceasa, perguntam os mais irônicos, sem esquecer a dissonância de ter um suposto protetor de pets, Igor Normando, gerenciando as relações com as comunidades.
A lista de abominações é interminável. E todo dia ganha novos personagens. A mais recente é a presença do ilustre desconhecido Thiago Miranda à frente da influente Fundação Cultural do Pará, antes entregue aos mandos e desmandos do Igor Normando e de seu irmão, feito vereador sem fazer sequer campanha.
Valor esperado
Compreendida matematicamente, a complexidade do pôquer que Helder Barbalho está jogando é profunda. Da mão particular que ele abre de cada posição, até um check aparentemente sem importância, cada decisão influencia sua taxa de vitória como jogador.
E isso, ao final e ao cabo, será medido pelo valor esperado (EV), a saber: se Jader Filho se viabilizará ou não para a sucessão do campeão das probabilidades complexas.