O estilo debochado e jocoso do ex-governador Hélio Gueiros é parte da história política do Pará, quer respondendo a adversários, quer tratando de assuntos da administração. No caso da greve dos professores de 1979, Hélio deixou a marca de um palavreado tipicamente paraense: “caldo de gó”/Divulgação.

Advogado aposentado, ex-deputado constituinte na Assembleia Legislativa e ex-conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, o TCM, do qual, aliás, foi presidente, Ronaldo Passarinho, que se sentiu “desafiado”, reporta que a famosa greve dos professores da rede pública do Estado relacionada à edição de ontem da coluna ocorreu, de fato, durante o governo Hélio Gueiros, em 1979. Um dos personagens, ativista do PT, o da greve de fome, era Luís Araújo, ou Luís “Caneta” ou, ainda, “Dentinho”, irmão e não o atual chefe de Gabinete do prefeito Edmilson Rodrigues, Aldenor Júnior, como saiu aqui. Luís Araújo foi deputado estadual pelo PT, eleito em 1994. Antes dele, o partido elegera seus dois primeiros representantes na Assembleia – Edmilson Rodrigues e Valdir Ganzer, ambos constituintes, em 1989.

Bom filho à casa torna

Detalhe: sumido de Belém havia bastante tempo, Luís Araújo retornou recentemente para assumir uma secretaria criada para ele pelo prefeito Edmilson Rodrigues, mas isso são outros quinhentos.

“Estado de chateação”

O governador Hélio Gueiros não negociava com grevistas, segundo conta Ronaldo Passarinho que, à época, era líder do PDS e gozava de bom relacionamento com o chefe do Executivo.  Belo dia, com a greve já em avançado “estado de chateação” para o governador, Ronaldo, preocupado com o estado de saúde dos grevistas, decidiu pedir a um médico amigo uma avaliação dos supostamente combalidos ativistas, que ocupavam o grande salão da Assembleia Legislativa, que dava acesso ao Plenário. Ao voltar, o médico expôs a saúde dos grevistas a Ronaldo Passarinho: um deles já apresentava alguns sinais de desidratação.

“Se ligue na televisão”

Incontinente, Ronaldo Passarinho correu para o telefone vermelho, que permitia comunicação imediata com o governador, e foi atendido pelo próprio governador, por volta das 18 horas, passando a relatar a avaliação médica e sua preocupação. Calmo, mas enigmático, Hélio Gueiros informou ao seu interlocutor que dera entrevista para a TV Liberal que iria ao ar na edição daquela mesma noite, recomendando-lhe acompanhar o noticiário. Ronaldo Passarinho assim o fez.

Efeito desmoralizador

Na entrevista, a resposta do governador ao repórter sobre o Estado dos grevistas: “Não se preocupem. Tenho seguras informações de que, lá pelas dez da noite, quando não há mais ninguém na Assembleia Legislativa, os grevistas são alimentados por um suculenta sopa de cabeça de gurijuba, que da sustância”.

Pano rápido.

Nota da coluna: Os anais da história se referem a “caldo de gó”, que tem valor nutritivo inversamente proporcional ao “caldo de cabeça de gurijuba”, isto é, não alimenta. Outra: há relatos de que o falecido coronel Arruda levou uma mordida no dedo, não na orelha. Enfim, se é verdade que a história é contada pelos vencedores, como reza a lenda, que os vencedores se apresentem, se vivos forem.