Por Olavo Dutra | Colaboradores
Vereador sugere ao deputado Vítor Dias “apertar o 1º botão daquele negócio…” contra prefeito Raimundo Oliveira como forma de tentar acomodar os interesses políticos no município. Áudio descortina repasse de R$ 25 milhões – para mais ou para menos – para asfaltamento de ruas, valores reais e fictícios com supostas “sobras programadas” para uso nas eleições.
Áudio de pouco mais de 13 minutos envolvendo conversa telefônica entre o secretário de Agricultura de Bragança, Jorge Luís Monteiro, os vereadores Gordo do Treme (Solidariedade) e Luís Gonzaga Miranda (DEM) com o deputado estadual Vítor Dias (União Brasil) é o que se poderia chamar de “fogo no parquinho” do prefeito Raimundo Oliveira, o Raimundão, com labaredas lambendo as pernas de quem, aparentemente, parece estar longo da disputa intestina, mas não está.
Com alguns trechos iniciais da conversa entre o secretário e os dois parlamentares quase inaudíveis, a gravação revela que o prefeito Raimundo Oliveira, que trabalha para eleger o filho, Charles Oliveira, o Charlão (PSDB), deputado estadual, conseguiu reunir cerca de 1 mil pessoas no ´lançamento da pré-candidatura, “coagindo funcionários da prefeitura”, público que teria sido transportado em mais de 20 ônibus alugados. O assédio, segundo o documento, incluiria ameaça de demissão. A pressão só não teria funcionado com uma professora, que deve “voto de gratidão” ao deputado Vítor Dias por ter dado emprego a uma filha no Tribunal de Contas do Estado. Até mesmo vereadores, como Gordo do Treme, Luís Gonzaga e Irene, mulher do secretário de Agricultura, estariam sendo obrigados a trabalhar pera eleger Charlão.
O preço do asfalto na cidade
A conversa ganha contornos mais agudos quando retomada pelo secretário Jorge Luís com o pedido para que o deputado Vitor Dias impeça, junto ao governo do Estado, o repasse de R$ 25 milhões do programa de asfaltamento da cidade, “em razão do Raimundão desviar R$ 5 milhões”.
– O senhor (deputado) precisa ir com esse negócio da Seduc (Secretaria de Educação do Estado). O senhor vai ser o deputado da educação em Bragança -, diz o secretário já em ligação com Vitor Dias. “A minha opinião sobre o asfalto, visto esse convênio do munícipio com o Estado, é ruim, porque o senhor estará fortalecendo o Raimundo política e financeiramente. Pra nós não é bom; só pra eles… Compra a briga logo do asfalto, porque R$ 5 milhões desses recursos o Raimundão vai desviar e não vai devolver”, explica.
O botão nº 1 do negócio
Nesse trecho da conversa, o secretário Jorge Luís Monteiro detalha que o repasse de R$ 25 milhões prometido pelo governador ao prefeito para 15 quilômetros de asfaltamento de ruas atende ao preço dado pelo prefeito, que é dono de empresa de construção, correspondente a R$ 1,2 milhão por quilômetro asfaltado, mas o serviço custará, de fato, R$ 800 mil por quilômetro – restando R$ 400 mil para uso político, daí a recomendação de que o dinheiro não seja encaminhado via emenda parlamentar para a prefeitura, mas através de licitação, para evitar o suposto descaminho.
No final da conversa, o vereador Gordo do Treme faz a enigmática recomendação para que o deputado Vítor Dias aperte “o botão nº 1 daquele negócio…”, sugerindo se tratar de poderoso mecanismo capaz de fazer o prefeito Raimundo Oliveira refletir sobre a extensão dos seus atos políticos, administrativos e empresariais…