Por Olavo Dutra/Colaboradores
O problema da investigação diferenciada para vítimas ou grupos diferenciados jamais será resolvido facilmente no Pará – nem no Brasil -, tanto quanto compreender a postura governamental e de alguns segmentos da sociedade civil que se dizem defensores dos direitos humanos diante de casos semelhantes é sempre muito complexo.
No dia 10 de janeiro deste ano, uma família de ambientalistas que residia às margens do rio Xingu, localidade conhecida como “Cachoeira da Mucura”, em São Félix do Xingu – um homem, a mulher dele e a filha adolescente – foi executada a tiros por desconhecidos. Cinco meses depois, o triplo assassinato de José Gomes, o “Zé do Lago”, sua companheira, Márcia, e a filha Joene Nunes Lisboa, então com 17 anos, continua sem solução. A Polícia do Pará não apresenta qualquer resultado que indique os executores e as motivações do crime.
Diferente da morte de Zé do Lago e família, a investigação e as buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista inglês Dom Phillips ganharam repercussão e comoção internacional, mas, mesmo diante de todo o aparato policial, foram consideradas extremamente lentas pelo alto comissariado da ONU e pelos familiares.
Dois papéis importantes
Zé do Lago e a família, como Phillips e Pereira, cada grupo no seu metro quadrado, desenvolviam papéis importantes na Amazônia, tanto no aspecto da defesa dos direitos humanos e dos povos indígenas, quando projeto ambiental de proteção de quelônios, repovoando as águas do Xingu com filhotes de tartarugas.
Zé do Lago e família residiam no local há mais de 20 anos e eram conhecidos e reconhecidos pelo trabalho ambiental que faziam. A terra ocupada por eles está em área de jurisdição do Instituto de Terras do Pará e inserida na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, com mais de 1,5 milhão de hectares. A área faz parte do Mosaico Terra do Meio, conjunto de áreas protegidas em um dos maiores corredores socioambientais do planeta.
Segundo o Inforamazônia, a unidade já teve 40% de seu território destinado a outros usos, sobretudo à pecuária. Entre 2018 e 2020, mais de 2 mil árvores foram devastadas a cada hora na unidade. Em agosto de 2020, a área foi a unidade de conservação que mais sofreu queimadas em toda a Amazônia.
A hora do “mea culpa”
A grande pergunta é: por que o triplo homicídio da família de ambientalistas não comoveu a comunidade internacional e as entidades que defendem a proteção dos defensores dessas causas tão nobres se limitaram apenas a questionar e a somar as vítimas ao rosário de casos que acontecem no Brasil, em especial na Amazônia? E a excelsa Assembleia Legislativa e seus nobres defensores dos direitos humanos, por que não denunciaram a autoridade constituída aos organismos internacionais?
Pense nisso.