Dezenas de imóveis que antes serviam como base para a indústria de transformação na Grande Belém fecharam as portas ou estão à venda. A Rodovia Arthur Bernardes é o retrato em preto e branco da decadência, sem sinais aparentes de mudança/Divulgação.

Atento observador da cena em Belém aponta, ainda que de maneira oblíqua, que a Rodovia Arthur Bernardes é o retrato em preto e branco do que já foi um dia a indústria de transformação na capital paraense: dezenas de galpões industriais fechados. Outro observador, igualmente arguto, vai mais longe: o chamado Distrito Industrial de Icoaraci se arrasta, empurrado pela Tramontina que, se pudesse, já teria batido em retirada. Nem a indústria naval escapa: o Estaleiro Maguari, da família Gueiros, segue apenas lixando ferrugem. E o setor pesqueiro? Tenta sobreviver em meio a uma terrivelmente injusta concorrência com a pesca clandestina. O quadro definitivamente é desolador.

Levantamento recente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial aponta que a indústria de transformação migrou do Ocidente para a Ásia, sendo a China a grande beneficiária da globalização. A indústria brasileira perdeu 41% de participação na produção mundial de manufaturados nos últimos 15 anos, mas, levando em consideração que, em 1990, a indústria brasileira participava com 3% da produção mundial de manufaturados, o Brasil perdeu 57%. No Pará, os dados sobre o setor são pífios, mas, na análise da pauta de exportações, verifica-se que as únicas indústrias de transformação com certo vigor, mas com cada vez menor participação,  são a frigorífica e a madeireira.

Estado paga alto preço
pela dependência extrema

Ouvido pela coluna, o professor e economista Eduardo Costa avalia que o Pará paga um preço elevado pela extremada dependência do setor mineral e da agropecuária. A base econômica primário-exportadora, com baixa verticalização, torna o Estado altamente dependente e reflexo da conjuntura internacional. Assim, alterações nos preços das commodities, na demanda mundial e no câmbio afetam significativamente o Estado.

Grande Belém não entra
nas projeções da Fiepa

Segundo Eduardo Costa, da projeção – provavelmente desatualizada – da Redes-FIEPA que estima que o Pará irá receber, até 2030, algo em torno de R$ 118,4 bilhões em investimento, a maior parte irá para nas regiões do Baixo Amazonas (32%) e Carajás (28%), o que demonstra que a Grande Belém deixou de ser o polo dinâmico da indústria e da economia paraense. Estes investimentos ocorrerão, pelo levantamento disponibilizado, sobretudo nas áreas de mineração (R$ 25 bilhões), energia (R$ 47 bilhões) e infraestrutura e logística (R$ 40 bilhões). Assim, a Grande Belém verá pouco disso.

Dados do PIB apontam
queda e baixo desempenho

De acordo com o último dado disponibilizado pelo IBGE, o PIB do Pará atingiu a marca de R$ 178 bilhões em 2019, tendo a indústria respondido por 34% do montante geral, mas apresentando significativa queda de 13,2% em relação ao ano anterior – reflexo da crise econômica mundial decorrente da pandemia do Covid-19. O setor que puxou a queda industrial no Pará foi o da mineração, com um desempenho negativo de 36,8%. Destaca-se que os demais setores tiveram, sem exceção, desempenho pífio.