Com endividamento em níveis históricos e mais de 69 milhões de pessoas com nome restrito no País, população perde cada vez mais capacidade de colocar contas em dia/Foto: Divulgação-Ilustração-Serasa Experian, dados de junho 2022.

Estudo analisa o nível de inadimplência das famílias com o objetivo de apontar saídas para a situação do País.

Em cenário de crise global, em que o endividamento no Brasil alcançou o maior nível histórico, atingindo os 77,9%, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o brasileiro está ainda com mais dificuldade para colocar as contas em dia. O último levantamento da Serasa aponta 69,43 milhões de pessoas com nome restrito entrando em 2023. 

Estudo da Deep Center aponta que a probabilidade de o brasileiro recuperar uma dívida – ou uma parcela em atraso – em até 30 dias após o vencimento é de quase 68%. No entanto, essa chance cai para menos de 5% em uma dívida acima de seis meses;

Ainda segundo a pesquisa, o valor médio de uma dívida no Brasil é de R$ 4.493,90. Em relação ao perfil dos inadimplentes, os brasileiros de 26 anos a 40 anos se destacam, representando 34,8% dos endividados. 

Carnês, carro e crédito

O cartão de crédito impulsiona a situação, com 86,6% das dívidas. Carnês em lojas correspondem a 19% do total; financiamento de carro, 10,4%; crédito pessoal, 9%; financiamento de casa, 8,1%; crédito consignado, 5,5%; e cheque especial representa 5,4%. 

Entre 2013 e 2018, a taxa de endividamento no País começou em 62,5% e foi para 60,2%. Contudo, entre 2019 e 2022, a proporção de pessoas com endividamento aumentou 14,3 pontos, reflexo da pandemia da covid-19, que mudou hábitos, paralisou e fechou pequenos e médios negócios e fez as pessoas contraírem mais dívidas. 

Efeitos da pandemia

Ainda durante a pandemia, o Brasil alcançou um dos maiores contingentes de desempregados desde 2012, ultrapassando 14 milhões de pessoas. O agravamento ocorreu também por causa da paralisação de programas de incentivos, como o Auxílio Emergencial, que voltou tempos depois com redução de valores e números de beneficiários. 

O cenário incerto proporcionado pela pandemia também dificultou a recuperação dos créditos e impactou a geração de lucros das instituições financeiras. Os bancos provisionaram valores recordes em PDD (Provisão para Devedores Duvidosos). Os últimos trimestres corresponderam ao equivalente a um ano inteiro comparados ao histórico. O custo do crédito, que inclui a despesa de provisão para crédito em liquidação duvidosa dos cinco maiores bancos do país, deve superar os R$ 150 bilhões em 2022 após o fechamento de resultado. 

Flexibilidade bancária?

 De acordo com CEO Gabriel Camargo da Deep Center, esse cenário exige mais flexibilidade dos bancos e mais cuidado da população. “Tudo corrobora a inadimplência no País. Quanto mais antiga é uma dívida, mais difícil é recuperá-la. Para enfrentar a situação, as instituições financeiras precisam apostar na renegociação, demonstrando condições diferenciadas que ajudem não só a recuperar o crédito para a instituição, como também a recuperar o próprio cliente e a economia brasileira”, explica.