Discussão “bipolar” na Funpapa expôs distância entre a gestão Ed50 e seu eleitorado na rede de ensino. De tanto ouvirem “potocas”, professores fazem duras cobranças, mas são hostilizados e humilhados por segurança/Imagens: Redes Sociais-Whatsapp.

Por Olavo Dutra e colaboradores

Delírios às vezes deslocam o indivíduo da realidade e podem criar, em volta dele, uma realidade paralela que vitima inocentes, especialmente os que pensam ou vivem de modo divergente…

A sétima arte em preto e branco já nos brindou com peças geniais que fizeram gerações inteiras rir e refletir. Assim é a história de Adenoid Hynkel, vivido por Charles Chaplin. Delirante, ele assume o governo da fictícia Tomânia, acreditando poder instaurar uma nação puramente ariana. Um barbeiro – personagem também vivido por  Chaplin -, que está hospitalizado devido à participação em uma batalha na 1ª Guerra Mundial, recebe alta, mesmo sofrendo de amnésia sobre o que aconteceu no embate. Por não ser ariano, portanto, “impuro” passa a ser perseguido e precisa viver no gueto. A vida dos “impuros” é monitorizada pela guarda de Hynkel, cujos planos de dominar o mundo incluem invadir Osterlich, um país vizinho, negociando, para tanto, um acordo com Benzino Napaloni (Jack Oakie), ditador da Bactéria. Trata-se de “O Grande Ditador”, uma das obras primas do genial Chaplin. A película mostra como os delírios totalitários podem deslocar o indivíduo da realidade e criar, em volta dele, uma falsa realidade, realidade paralela de eternidade e autoindulgência, que vitima inocentes, especialmente os que pensam ou vivem de modo divergente, considerados “impuros”.

Impossível não recordar Adenoid Hynkel ao ver as cenas de truculência explícitas envolvendo o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e servidores municipais em greve pelo direito de equiparação de seus soldos ao salário mínimo nacional. Impossível. Tudo ali remete diretamente a um mundo em preto e branco, embora as imagens tenham circulado em cores nas redes sociais. O lamentável episódio ocorreu dentro das instalações da Funpapa – órgão justamente responsável pela assistência social no município.

Inimigos por toda parte

Com o dedo em riste, o prefeito vociferava contra humildes merendeiras e serventes, na quase totalidade mulheres, que reivindicavam, literalmente, o mínimo. As frases agressivas eram acompanhadas de arroubos autoproclamatórias: “São fascistas”, “vocês são bolsonaristas”, rotula ele servidores em luta por direitos. “Aqui não!”, gritava. “Aqui é o governo do povo. Bolsonaristas não passarão”, berrava, surdo aos apelos, enquanto batia no peito feito King Kong em êxtase. Não parece contraditório a Ed Hynkel que sua fala elitista se arremesse justamente contra trabalhadores humildes. Percebe-se na postura, nos gestos e nas palavras que ele vê inimigos por toda parte.

Um arruaceiro de plantão

Ao lado do prefeito e fazendo coro contra mulheres pobres estava Stefani Henrique, comandando a claque de seguranças pagos que ameaçava as “contrarrevolucionárias senhoras”, todas “armadas” com cartazes pintados em cartolinas. Leão de chácara profissional, arruaceiro conhecido, Stefani, para não sair de Hollywood, é envolvido em refregas de torcidas organizadas nos estádios e se tornou notório ao dirigir a chamada “Milícia Cabana”, tropa de choque ligada às primeiras administrações de Edmilson e cuja função era a dissolução de manifestações contrárias ao prefeito. A ação mais notória da milícia foi a invasão da sede da Segup, pela qual o indigitado responde até hoje.

Militante profissional, Stefani Henrique, o jagunço, passou pelo PT e escorregou nas paredes do Psol, não sem antes descansar no  Rede Sustentabilidade, de onde foi expulso e, por fim, jura que se reacomodou novamente nas asas de Edmilson. Pelos serviços prestados, recebe por mês algo em torno de R$ 6 mil, enquanto os servidores em greve são insultados por ele e seus asseclas pelo simples direito de lutar pelo salário mínimo.

Uma pose para o Tik Tok

No último domingo, a milícia de Stefani fazia a proteção de Edmilson na “rua de lazer” armada como um circo pela prefeitura, na avenida Presidente Vargas. Na ocasião, Edmilson fez dancinha de flashback para o Tik Tok, enquanto os transeuntes precisavam saltar sobre pilhas de lixo nas laterais da avenida. As redes sociais se encheram de críticas ao alcaide.  Ruas de lazer, aliás, começaram em Belém na administração Ajax de Oliveira, prefeito biônico – que este repórter acompanhou por longo tempo, até a superintendência do Incra -, quando ainda vigorava a ditadura militar e se popularizam na gestão Coutinho Jorge, nos anos 1980. Vivendo da memória remota, como um paciente senil, o “governo de novas ideias” segue devendo um prato que não seja requentado.

Divulgação

Acordo sem fio de bigode

Na última sexta-feira 20, o governador do Pará, Helder Barbalho, e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, participaram de evento para assinatura de uma série de convênios. Pelo trato, sem fios de bigode, como nos velhos tempos, o governo do Estado arcará com os custos de obras fundamentais para a cidade, que vive o mais grave  abandono em décadas. Helder, que já está fazendo o restauro do Cemitério da Soledade, em Batista Campos, arcará também, através d a Secult, com a reforma do Palácio Antônio Lemos – que começou na administração de Zenaldo e parou com Edmilson – além da transformação da avenida Romulo Maiorana em via-parque, a reforma de feiras e mercados e recapeamento de vias públicas.

Helder já pulou fora

Prefeito de fato, Helder colocará na mão do prefeito empossado Ed50 a bagatela de R$ 100 milhões para custear essas obras. O mecanismo do convênio vem sendo usado, desde a posse de Ed, para drenar recursos do Estado para a prefeitura. Mas, não se enganem: Helder, ao fazer isso, está focado em sua própria reeleição. Edmilson, que terá candidato próprio contra Helder, precisa urgente achar outro padrinho se quiser sobreviver a 2024. Hélder já pulou fora. Tem em sua mesa pesquisas que atestam o estado terminal da administração Ed50. No que depender da vontade do eleitor, “Ed Potoca”, como sussurram as ruas, tomou o caminho de ida. A rejeição ultrapassou 65%, faz tempo e chegou ao ponto que os especialistas classificam como de “não retorno” – no came back, como se diz em Hollywood.

Diferente de Chaplin e seu humor inteligente e filosófico em preto e branco, Ed Hynkel não deixará saudades.