Desde que foi eleito, o governador Helder Barbalho desenhou, executou e pavimentou seu projeto de poder, no que teve a ajuda da oposição tucana que, depois de mais de 20 anos, não conseguiu criar uma liderança capaz de reagir. Nessa batida, Helder levou de roldão e sepultou as eventuais resistências ao seu projeto, que só pode ser barrado pela Justiça, por culpa dele mesmo/Fotos: Divulgação.

Por Olavo Dutra

À desistência pública do ex-governador Simão Jatene em disputar a eleição deste ano – vencido de véspera por ações judiciais que tornam instável a sustentação jurídica de sua candidatura -, se associou uma agressiva ação política do governador Helder Barbalho que aniquilou a oposição, deixando para ela um espaço exíguo, que tenta ser ocupado pela pré-candidatura ao governo do senador Zequinha Marinho, mas, muito contido, não empolga, nem agrega.

Pela esquerda, a oposição antes empreendida por PT e Psol desapareceu. O PT foi para o bolso ainda em 2018, com a adesão incondicional de Beto (da Fetagri) Faro ao projeto de poder de longo curso do MDB. O Psol foi o próximo a cair. Marinor Brito, do Psol, é líder de uma oposição que não existe na Assembleia Legislativa, convertendo-se, do ruidoso discurso “contra tudo o que está aí” a uma fala mansa e impotente, parte do arrastão governista que domina o Legislativo estadual e além.

A rendição da esquerda

O papel central que Helder teve na eleição de Edmilson sepultou o projeto do Psol de escalar o prefeito lilás como sucessor do atual governador em 2024. A mão amiga de Helder para ajudar Edmilson começou muito antes da eleição, quando o governador desmontou a pré-candidatura de Ursula Vidal, a única adversária real de Edmilson, às vésperas do Dia D da desincompatibilização. A seguir, Helder agiu ao tirar o gás do primo Priante, candidato do MDB, que não teve o apoio esperado. No segundo turno, foi decisivo o papel ativo de Helder junto às lideranças e estruturas políticas, colocando máquina e recursos nas ruas para derrotar o desconhecido Eguchi. Edmilson não seria prefeito sem Helder e não terá qualquer chance de ser reeleito sem ele. A rendição gerou um estranho governo psolista, que se queria de esquerda radical, mas que se viu – pelos fatos e atos – subjugado por um governador de centro-direita com apetite voraz para o poder. O Psol emudeceu. Não faz nem fará oposição porque se tornou, na prática, um reles puxadinho de Helder e seus interesses.

“Blitzkrieg” incontrolável

A oferta de vaga no guarda-chuva governista para disputar o Senado ao ex-adversário Flexa Ribeiro e a visita, na mesma semana, de Everaldo Eguchi e Márcio Miranda ao Palácio de Despachos – para negociar apoio às suas possíveis candidaturas – mostra que a blitzkrieg do “Rei do Norte” não será contida por nada. Poderes totalitários, contudo, tendem a ser autorreferentes – e a autorreferência cria dois problemas estruturais: o primeiro é a ilusão do poder absoluto, que anula mentalmente a oposição externa e a ignora, trazendo para os corredores da corte a solução de todos os problemas que a vida social – e sua correspondência política – criam no dia a dia; o segundo é que, por medo de perder o controle de tudo para concorrentes reais ou imaginários, governantes totalitários inventam falsas soluções olhando apenas para o lado – nunca para fora.

Efeitos colaterais

Lula fez isso quando, do alto de seus 80% de aprovação, decidiu ignorar o campeão de votos Jacques Wagner, do PT da Bahia, e lançar a economista Dilma Rousseff, gerente eficiente, mas neófita na política, como candidata a presidente. Lula foi, com sua tática doméstica, bem sucedido eleitoralmente, mas destruiu o equilíbrio fiscal, fez explodir a inflação, paralisou a economia e dinamitou as pontes políticas, criando as bases para o impeachment e para o fenômeno bolsonarista que viria logo depois que a teimosia autoritária do PT conduziu Dilma a um segundo mandato. Helder acha que pode repetir Lula, esquecendo os efeitos colaterais.

Malabarismo temerário

Sem oposição visível ou concorrente que o assuste, o “Rei do Norte” ensaia, contra o conselho do bom senso e os exemplos históricos, seu maior ato de malabarismo: lançar sua gerente e contadora Hanna Ghassan, sem qualquer traquejo ou experiência política, como sua futura vice-governadora. Patéticas claques pagas pelo governo têm comparecido a inaugurações para gritar o nome da desconhecida, como se efetivamente fosse, para além da cozinha dos Barbalhos, alguém relevante politicamente.

Se atropelar a política em nome da gerência dos negócios e patrimônio, ao sair para o Senado – e se a lei permitir – , em 2024, Helder deixará o governo acéfalo politicamente e seu legado, para o bem ou para o mal, sem quaisquer chances de continuidade, colocando todos os aliados de hoje em risco. Será um Pará da página em branco, derrotado pelo ego e pelo vazio.

Em júbilo, a “República de Ananindeua” agradece.