Por Olavo Dutra | Colaboradores
O PT acredita, de verdade, que o presidente eleito, Lula da Silva, fará um governo petista – mas Lula quer entrar definitivamente para a história, selar sua passagem como o estadista que reunificou um País dividido e reconduziu seu povo a patamares de desenvolvimento humano crescentes. Poucos homens públicos no Brasil tiveram a clareza de seu papel histórico. Getúlio Vargas talvez, já que ao encerrar a vida de forma voluntária colocou nas próprias mãos o seu destino pela última vez.
O chefe da transição
As muitas listas de supostos ministérios do governo Lula parecem ter sido feitas em uma banca de apostas de uma das reuniões do Fórum de São Paulo – por isso incluem Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Janja, e até mesmo João Pedro Stédile no Ministério da Reforma Agrária. Uma espécie de Soviet Supremo pós-revolução russa em um País que ainda tem, em frente a quartéis, gente pedindo intervenção militar para garantir a permanência do candidato derrotado à frente da Presidência. O tempo exige cautela e Lula sabe disso, por isso entregou a chefia da transição para Geraldo Alckmin, e não para um petista.
Observai a vizinhança
Gabriel Boric, no Chile, também pensou que seria uma espécie de reencarnação de Salvador Allende, conduzindo sem embaraços o legado do presidente deposto por militares e empresários em 1973. Montou de saída um governo com quadros egressos das lutas sociais e da esquerda tradicional e foi para as ruas tentar alterar a Constituição através de um plebiscito. Perdeu. Após a derrota, teve que descer à terra.
Antigos aliados do presidente deixaram os cargos-chave e a centro-esquerda próxima da ex-presidente Michelle Bachelet e mesmo setores de centro e liberais ganharam mais espaço. A dissonância entre a realidade e seu entendimento parece povoar as cabeças de petistas, que se imaginam em 2002, quando a sinalização ao mercado feita pela Carta aos Brasileiros de José Dirceu foi o suficiente. Mas, estão, em 2022…
Forças convergentes
Em 2022, sem o núcleo tucano de Alckmin, sem o pragmatismo renovador de Simone Tebet, sem o carisma de Randolfe Rodrigues e Marina Silva, sem o silêncio providencial de Ciro Gomes, sem as sinalizações ao mercado feitas por Henrique Meireles, Pérsio Arida e André Lara Rezende, sem o aporte de força acrescentado por governadores do MDB, Lula teria perdido a eleição.
Os números mostram isso de maneira insofismável. Esses aliados não terão espaço amplo no novo governo? Claro que terão. Mas, se o PT quiser ocupar todas as cadeiras, quem ficará de fora será Lula, prisioneiro de um governo que começará sob fogo e não se sabe como terminará. Lula quer isso? Não. Então, será ele ou o PT. E o senso de sobrevivência de Lula é extraordinário, como é público e notório.