Provável reeleição de Helder Barbalho abrirá novo capítulo no continuísmo dinástico que a família nutre desde a eleição de Jader Barbalho como governador, no longínquo 1982.
Por Olavo Dutra | Colaboradores
O Brasil é uma República de dinastias políticas. A presença de famílias dominantes em todas as esferas do poder público dos períodos da Colônia, Império, República e na contemporaneidade é um fato constatado e amplamente estudado. Existe ainda uma relação direta entre a ascensão do conservadorismo brasileiro e o aumento das dinastias políticas nas casas legislativas, em especial.
Essa tradição nepotista é um obstáculo às mudanças no funcionamento do sistema político. Amanda Audi, repórter do Intercept Brasil, em Brasília, apontou, em matéria recente, como a Câmara dos Deputados trabalha para driblar a lei que proíbe a indicação de parentes e amigos para cargos de chefia em estatais. A política brasileira é tratada como se fosse um negócio de família e isso produz ferrenha resistência a qualquer ameaça a essa tradição.
Ricardo Costa Oliveira, que estuda a presença das famílias no poder, contabiliza 62% da Câmara constituída por deputados originários de famílias políticas, enquanto no Senado esse número sobe para mais de 70%. Ou seja, praticamente dois terços do Congresso brasileiro estão tomados por conglomerados familiares.
Essa lógica de domínio pelo parentesco também se dá em todas as outras esferas de poder da sociedade. A matéria do Intercepta Brasil afirma que “além dos executivos e legislativos estaduais e municipais, famílias tradicionais dominam o Ministério Público, todos os níveis do Judiciário, os tribunais de conta, e por que não lembrar, os oligopólios de mídia”.
A renovação dos quadros políticos esbarra na força da tradição e no poder econômico das famílias dominantes. A cada eleição, o que ocorre é a renovação dos parentes das famílias dominantes.
Família domina cenário
No Pará, a família Barbalho espalha-se por todos os escaninhos políticos, do Executivo ao Judiciário, passando por Câmaras de Vereadores, Assembleia Legislativa, Câmara Federal, Senado e no Executivo do Estado.
Alguns se apresentam como jovens promessas, como o deputado Igor Normando e o atual vereador de Belém, Renan Normando, eleito sem fazer campanha e sem nunca ter participado da política. Ao assumir a cadeira, tornam-se unicamente defensores do legado político da família e usufruem desavergonhadamente dos benefícios que a máquina e as relações de parentesco proporcionam.
Continuísmo no sangue
A recente estreia de Helder Barbalho Filho como figura pública e orador, em ato eleitoral registrado em Ananindeua, mais do que sinalizar a precocidade do menino e sua semelhança com o pai aponta para um futuro de continuísmo marcado pela carga genética e pela atávica necessidade de converter poder econômico em poder político e vice-versa.
Eterno plano de poder
Analistas políticos atentos falam que o plano de poder eterno da família Barbalho tomou um novo curso quando o governador escolheu como sua vice a técnica Hanna Ghassan, auxiliar administrativa da família desde muito tempo, mas sem qualquer vocação política ou carisma que indiquem uma possível titularidade na disputa eleitoral de 2026. Com a manutenção do controle da Assembleia Legislativa pelo fiel escudeiro da família, deputado Chicão Melo, Helder fechou os flancos para sua jogada mais ousada.
A provável reeleição de Helder Barbalho, que ostenta confortáveis índices de intenção de votos e não tem adversário visível, abrirá um novo capítulo no continuísmo dinástico que a família nutre desde a eleição de Jader Barbalho como governador, no longínquo 1982.
O filho nº 1 do senador Jader Barbalho e da deputada Elcione Barbalho, Jader Filho, fez carreira como empresário do ramo de comunicação, dirigindo o Grupo RBA e o jornal “Diário do Pará”. Sem histórico eleitoral, mas atual presidente do MDB no Estado, o ilustre ocupante do quinto andar da Torre é visto como o nome forte de Helder para sua sucessão. A família Barbalho, cuja árvore genealógica tem tradição em viver da política, tentará, assim, emplacar mais uma geração.
“Helder sairá candidato ao Senado em 2026. Hanna tomará conta do Estado com mão de ferro e total confiança da família. Chicão Melo segurará a manada na Alepa e comandará o movimento de agregação política pós-Helder, criando as condições para a candidatura de Jader Filho”, afiança uma fonte palaciana que prefere manter o anonimato.
“Elcione Barbalho, Igor Normando, José Priante, Nay Barbalho e Hélder Barbalho formam o time familiar presente na disputa eleitoral presente. Todos eles dificilmente não irão se eleger. São sobrenomes fortes dentro dos partidos; têm dinheiro e estrutura para ultrapassarem os concorrentes e são a plataforma de lançamento para a próxima disputa”, afiança a fonte.
A defecção possível
Esse novo arranjo servirá para desmantelar a pinguela política construída com zelo e paciência por Helder Barbalho, que uniu gregos e troianos em seu palanque e que terá como defecção possível primeira o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, que sonha ocupar o trono do “rei do Norte”.