Se bem andou, a Comissão de Sindicância criada dez dias atrás pela Arcon para apurar supostas irregularidades na concessão de linhas de navegação fluvial no trecho Belém-Marajó começou a procurar agulha no palheiro, só que não tem nem agulha, nem palheiro. Rigorosamente, trata-se, na verdade, de uma comissão “caça-fantasma” – no caso, um fantasma conhecido tanto na Arcon quando no Detran e na Secretaria de Meio Ambiente do Estado, mas, principalmente, na Justiça Federal. Atende pelo nome de Alisson Ramos, dono da empresa R M Consultoria e Vistoria Veicular (CNPJ 42.008.032/0001-83), sediada em Belém e com ligações com empresas do ramo em pelo menos 20 municípios. É tido e havido como um dos mais poderosos operadores no Estado.
Nome marcado por escândalos
Mesmo sob a proteção de “guarda-chuva” político muito forte, Alisson Ramos foi preso e condenado pela Justiça Federal a 19 anos de prisão, em sentença proferida pelo juiz federal Rubens Rollo de Oliveira, da 3ª. Vara, como integrante de organização criminosa denunciada pelo MPF por envolvimento em fraudes na comercialização de madeira na “Operação Ouro Verde II”, da Polícia Federal, em junho de 2007. Há exatamente um ano, Alisson Ramos foi alvo de processo aberto pela Delegacia da Mulher com base na Lei Maria da Penha. Em novo episódio, o “fantasma” aparece no balcão de negócios da Arcon, onde a empresa Moraes e Ramos Navegação (CNPJ: 33.971.394/0001-84) é acusada de ter sido favorecida por uma gerente da Agência. A empresa está em nome de Shirley Ramos Beltrão, irmã e testa de Alisson.
O presidente da lista de amigos
A atuação de Alisson Ramos nos bastidores do poder já criou conflitos com alguns deputados da base do governo Helder Barbalho, mas o homem segue em frente, firme e forte, graças às ligações que mantém com o ex-delegado-geral de Polícia Alberto Teixeira, atual comandante do Programa Pará Paz; com delegado-geral atual, Walter Resende; com o ex-diretor do Detran Marcelo Guedes; com o coronel PM Leonardo Franco, chefe do Gabinete Militar do Ministério Público do Estado; e com diretor da Arcon, Eurípedes Reis, para citar apenas a raia miúda. É na Arcon, portanto, que está o novo caso do operador envolvendo a gerente do setor Hidroviário, Thaissy Miranda, e outro operador parceiro de Alisson Ramos chamado Gabriel Chamon – qualquer parentesco com o deputado Chamonzinho não será mera coincidência.
Decisão agride até lei da física
A gerente de Hidrovias da Arcon, Thaissy Miranda, é acusada pela empresa ML Transporte e Navegação, detentora de concessão de linha fluvial Belém-Santa Cruz do Arari, de corromper a lei da física segundo a qual dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Pois a moça escancarou a linha para três empresas, duas operando ao mesmo tempo e uma quarta empresa, com operações com intervalo de dez minutos das demais, provocando grande rebuliço nas águas do Marajó. A quarta empresa está em nome da irmã de Alisson Ramos, Shirley Ramos Beltrão, mas ele é real dono da concessão da Arcon. (Com informações de Ver-o-Fato e O Antagônico).
Papo Reto
- É mais quem pergunta à coluna por que o superintendente da Unimed Belém, Augusto Borborema (foto), ex-dono do Laboratório Borborema, pediu demissão do cargo.
- A coluna não conseguiu apurar, mas a resposta mais frequente à pergunta coloca como suposto motivo o prejuízo de R$ 126 milhões da cooperativa contabilizado ano passa por conta da pandemia.
- A Auditoria-Geral do Estado deixou de notificar empresários e ex-gestores para resolver pendências. Rubens Leão mudou a forma de agir imposta sem base legal pelo seu antecessor o Giuseppe Mendes.
- Desde que Leão assumiu, a AGE opera como uma delegacia: quando baixa diligência é direto no órgão auditado, sem alardes e pronta para condenar antecipadamente.
- Com todas as irregularidades cometidas como Delegado-Geral da Polícia Civil, Alberto Teixeira recebeu foi punido com promoção à Classe D, ainda que fora da atividade fim.
- Parece que e a Corregedoria da PC fechou para balanço ou alteraram os critérios de promoção de delegados.
- As redes sociais teimam em dar nome ao mascote do Parazão. Até agora, o nome preferido é “Begot”, referência ao ex-prefeito de Ananindeua Carlito Begot acusado de comandar o massacre a um peixe no Condomínio Lago Azul.
- Não é verdade que a Polícia Ambiental saiu à francesa das investigações sobre a morte do peixe que viralizou nas redes sociais, nem que o Ibama virou a cara para a bizarrice.
- Com as eleições de Raymundo Mário Sobral e Salomão Habib, o presidente Ivanildo Alves conseguiu recompor o quadro social da Academia Paraense de Letras.
- Na Arthur Bernardes, bairro Pratinha II, segue em construção um prédio – já na quarta laje – sem placa de engenheiro responsável ou licenciamento do Crea, que deve estar muito ocupado com a reconstrução da Ponte de Outeiro.