Atingido pela injustiça dos homens, ex-deputado e ex-vice-prefeito de Belém que chegou à Transamazônica nos idos de 1970 embalado pelo ‘milagre econômico’ é vítima de malfeitos alheios e corre risco de perder o que amealhou como agricultor durante toda a vida.
Em 2008, fortes chuvas assolaram a região oeste do Pará, principalmente a Calha Norte e a Transamazônica, deixando um rastro de destruição e centenas de famílias isoladas passando necessidades. Foi quando a então governadora Ana Júlia Carepa conseguiu, junto ao Ministério do Desenvolvimento, celebrar convênio de cerca de R$ 8 milhões para obras emergenciais, repassadas à Secretaria de Transporte, dirigida por Valdir Ganzer.
Sem tempo para licitar obras ou contratar serviços, diante da premência da situação, a Secretaria pulverizou recursos entre prefeitos das áreas atingidas para contratar máquinas e trabalhadores e comprar combustível para minimizar os danos causados pela natureza braba.
Prestações de contas
O secretário Valdir Ganzer chegou a fiscalizar boa parte dessas obras em municípios da região e nos travessões da Rodovia Transamazônica, onde vivem milhares de produtores rurais. As intervenções ultrapassaram as metas estabelecidas, mas a prestação de contas dos recursos aplicados nunca foi feita de acordo com os investimentos, como caberia aos prefeitos prontamente atendidos pelo Estado.
E eis de 15 anos depois o Tribunal de Contas da União condena o ex-secretário a devolver aos cofres públicos o valor corrigido de R$ 22 milhões, sob pena de sanções penais.
Cumpridor de mandatos
Valdir Ganzer foi deputado federal constituinte, deputado estadual e vice-prefeito de Belém, além de secretário de Transporte. É pessoa de caráter, que sempre honrou seus mandatos com conduta digna e respeito, mas decidiu sair da política por discordar dos métodos, passando a viver, modestamente, em uma área cujo acesso só é permitido através de estrada de terra nas imediações da Alça Viária.
Costumava dizer que ‘cumpria mandato’, pois que sua profissão, durante toda a vida, foi a de produtor rural, desde o tempo da Transamazônica, nos anos 1970, oriundo do Rio Grande do Sul com a família, atrás do ‘milagre econômico’. É conhecido da coluna desde lá.
Agora, Valdir Ganzer terá que provar inocência, sob pena de perder o que amealhou por toda a vida e que não chega a 10% do valor devido, pelas contas da União – um patrimônio pífio para quem é acusado de desviar milhões em um País onde a Justiça tarda e por vezes é falha ao atirar no que viu e acertar no que não viu.
Onde andam os culpados?
Como perguntar não ofende, onde andariam suas excelências os prefeitos de então, os que se beneficiaram com a pronta ação do Estado e também deveriam ser responsabilizados?
O Brasil e seus vícios de origem…