Do macarrão instantâneo, passando por refrigerantes, massas congeladas, salgadinhos e até cereais matinais turbinados com calorias e quase nenhum valor nutricional, os chamados junk food nem podem ser chamados de alimento: são permanente ameaça à saúde.
Em 2019, antes da covid-19, 55% das mortes registradas no Brasil foram por doenças crônicas não transmissíveis: derrames, ataques cardíacos, diabetes, demência, câncer e outras patologias, todas adquiridas ou agravadas através de alguma espécie de inflamação.
A ingestão crescente de alimentos chamados junk food – macarrão instantâneo, refrigerantes, energéticos, nugts, salsichas, pizzas e outras massas congeladas, cereais matinais, salgadinhos em sacos -, riquíssimos em calorias, mas pobres em valor nutricinal está na raiz da escalada de mortes prematuras mundo afora, segundo cientistas brasileiros e chilenos em estudo recente. O grande nó e que esse tipo de comida é imediata e facilmente absorvido pelo organismo, desencadeando uma enxurrada de insulina na circulação sanguínea.
Comparação que choca
Segundo o estudo, em 2019 o Brasil registrou mais de 57 mil mortes relacionadas ao elevado consumo de junk food, ou comida-lixo. Constatou-se que 20% de tudo que se comeu no País naquele ano vieram de fontes inflamatórias para o corpo humano.
Nos EUA, 60% do que é comido vêm dos viciantes ultraprocessados, explicando-se o fato de, pela primeira vez, o país apresentar mais obesos que pessoas com o peso normal.
Em 2019, enquanto 57 mil morreram no Brasil por doenças normalmente adquiridas através do consumo de alimentos pouco nutritivos, 45 mil pessoas vieram a óbito por homicídios por armas de fogo e armas brancas.
Algozes e implacáveis
Corantes e emulsificantes artificiais, aromatizantes e outros compostos químicos utilizados para melhorar o sabor, a crocância e prolongar o tempo de prateleira dos ultraprocessados prejudicam a absorção dos nutrientes necessários ao organismo. São implacáveis algozes da microbiota intestinal. O resultado, garantem os médicos, são inflamações generalizadas a partir do intestino, com dores articulares e musculares, estresse, memória e sono ruins.
“A forma como estamos nos alimentando está nos matando”, garante Anthony Winson, que estuda política econômica de nutrição na Universidade de Guelph, em Ontário, Canadá.