Mídias sociais agem no cérebro de maneira semelhante ao álcool e às drogas, gerando uma descarga de hormônios do prazer – em especial, a dopamina e a endorfina/Fotos: Divulgação.
Feitiço tecnológico é programado automaticamente para atrair usuários; saiba se você se enquadra entre os que fazem uso abusivo do aparelho e ou tem dependência patológica.
O que muitos pais temiam já é triste realidade: vício do uso de telefones celulares com todos os atrativos que o dispositivo oferece é maior que a dependência provocada pelo alcoolismo. Os dados foram apresentados em estudo do Instituto Delete – Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologias, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os números mostram que sete em cada dez pessoas apresentam uso abusivo de telas e que três em cada dez pessoas apresentam uso abusivo patológico e dependente do telefone celular.
A causa está nos algoritmos que programam o chamado autoplay, ferramenta que dispara automaticamente os vídeos que passam na timeline, prendendo a atenção em coisas programadas exatamente para cada usuário, mas que chegam às vistas como se fossem coincidência ou de forma aleatória. Acredite, não há nada de coincidência nisso. E, muito menos, de aleatório. O objetivo dessas ferramentas é justamente fazer com que o usuário fique cada vez mais tempo conectado.
Não é de hoje que a percepção sobre os recursos de rolagem infinita do feed e de reprodução automática de vídeos encorajam e aprofundam comportamentos viciantes nas redes sociais. E isso em pessoas de todas as idades. Como bem definiu o senador republicano Josh Hawley, dos Estados Unidos: “A big tech adotou o vício como modelo de negócios”. O pior é que esses recursos são tão presentes no dia a dia que poucos se dão conta do quanto são prejudiciais à saúde.
Tal e qual o álcool
O estudo mostrou que as mídias sociais agem no cérebro de maneira semelhante ao álcool e às drogas, gerando uma descarga de hormônios do prazer – em especial, a dopamina e a endorfina. E isso acontece porque, nas redes sociais, quem decide qual publicação ou vídeo que aparece na timeline é um algoritmo de inteligência artificial que seleciona os conteúdos potencialmente interessantes e apelativos.
Por mais “automático” que pareça, esse comportamento viciante com o celular está longe de ser passivo. É, na verdade, de acordo com especialistas, a reposta do cérebro a um bombardeio de informações, o que pode – e tem – gerado consequências desastrosas no âmbito social e graves problemas para a saúde física, mental e cognitiva.
Insônia e isolamento
Ainda de acordo com os pesquisadores, uma hora de tela à noite pode reduzir em até 20% a melatonina, conhecida como hormônio do sono. Isso se traduz em um sono entrecortado, insuficiente para produzir a higiene entre as células. Também atrapalha a consolidação de memórias e as funções fisiológicas que ocorrem durante o sono, como a liberação do hormônio de crescimento. A hiperexposição à tela também pode causar prejuízos às relações familiares, isolamento, perda de rendimento no trabalho e nos estudos, depressão, ansiedade e alterações no processamento cognitivo, a forma como o cérebro realiza operações. Em muitos casos, só de saber que o celular está ao lado a atenção do indivíduo já fica parcialmente comprometida.
Estou viciado?
- Alguns aspectos podem mostrar se o uso do celular está comprometendo, de alguma forma, o comportamento.
- Quando o tempo nas telas passa a ser a única fonte de prazer em detrimento das relações na vida real
- Fazer tudo com o celular: leva o celular para o banheiro ou usa no carro, enquanto dirige.
- Quando não suporta a ideia de ficar em um lugar sem conexão com a internet.
- Quando tem sintomas de abstinência ao ficar longe do celular e das redes, demonstrando irritabilidade, mal humor e ansiedade.
- Conflito nas relações pessoais entre familiares e amigos por conta do uso exagerado do celular.
Redes sociais
As redes sociais são uma realidade. Já não dá para imaginar a vida sem elas. Por isso aqui vão algumas recomendações – também feitas por especialistas – para melhorar essa relação. Para começar, é preciso ser mais seletivo em relação ao conteúdo ao invés de apenas se deixar levar pelo algoritmo. Adotar hábitos saudáveis, fazer atividade física e priorizar o sono. Um detox rígido de redes sociais pode ter efeito no curto prazo, mas não durará. O ideal é definir um limite de tempo diário para acessá-las e executar mudanças menores e de longo prazo, o que pode gerar melhores resultados que desintoxicações dramáticas e passageiras (Com informações do g-1).