O padre brasileiro Nelson Giovanelli, fundador da Fazenda Esperança, comunidade voltada para a recuperação de dependentes químicos, foi um dos integrantes da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores criada pelo Papa Francisco para combater abusos/Fotos: Divulgação.
Livro expõe dossiê sobre abusos cometidos por religiosos e abre polêmica; dos mais de R$ 150 milhões exigidos como indenização, pouco menos de um R$ 1 milhão foram pagos às vítimas.
Nas últimas duas décadas, os casos de religiosos da Igreja Católica acusados de abusar sexualmente de crianças e adolescentes foram trazidos à tona de forma esparsa e com informações nem sempre tão claras, seguindo na contramão do que acontecia em países como Alemanha, Argentina, Austrália, Irlanda, Portugal e Itália, onde dezenas de sacerdotes foram expostos por molestar menores a partir de relatórios produzidos por jornalistas, comissões independentes e a pedido da própria Igreja.
Por isso o livro “Pedofilia na Igreja – um dossiê inédito sobre casos de abusos envolvendo padres católicos no Brasil” (Máquina de Livros, 2023) é rejeitado por uns e festejado por outros. O trabalho, lançado em todo o País no último dia 26 de maio, apresenta com riqueza de detalhes os casos de 108 sacerdotes acusados de abusar sexualmente de pelo menos 148 crianças e adolescentes. Desse total, 60 foram condenados pela Justiça.
Até freira envolvida
Os abusos incluem padres, monsenhores, bispos, arcebispos e uma freira de 80 dioceses e arquidioceses de 23 Estados e do Distrito Federal. Há casos ocorridos no Pará, inclusive. No Brasil, a Igreja Católica conta com cerca de 27 mil padres atuando em 111 mil igrejas. A idade média dos abusadores é de 49 anos e a maioria das vítimas tem entre 3 e 17 anos. Dos mais de R$ 150 milhões exigidos como indenização, pouco menos de um R$ 1 milhão foram pagos às vítimas.
Vale ressaltar que o Brasil, com cerca de 130 milhões de fiéis, é considerado o maior país católico do mundo, de acordo com dados do Censo de 2010. O levantamento do livro mostra que as vítimas do sexo masculino são o dobro do feminino e que os padres agem mais frequentemente em cidades com menos de 100 mil habitantes, onde foram registrados 48 dos 108 casos relatados.
Ferramenta papal
A luta contra a pedofilia na Igreja Católica ganhou força e novas ferramentas a partir de 2013, com a eleição do Papa Francisco. Em 2019, o argentino Jorge Mario Bergoglio publicou um decreto papal denominado “Vós sois a luz do mundo” – Vos estis lux mundi, que estabeleceu, entre várias medidas, prazo de 90 dias para as investigações contra clérigos e traçou o perfil das vítimas mais vulneráveis: enfermos, portadores de deficiência, gente privada de liberdade e pessoas com capacidade limitada para entender ou resistir aos atos de abuso.
Antes mesmo disso, Francisco já havia criado a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, em março de 2014, com a intenção de propor iniciativas de proteção a crianças e adolescentes dentro da Igreja. Um dos membros é o brasileiro Nelson Giovanelli, fundador da Fazenda da Esperança, comunidade terapêutica católica voltada para a recuperação de dependentes químicos.
Caso paraense
No Pará, o caso mais relevante aconteceu em 2020, quando o Arcebispo Metropolitano, Dom Alberto Taveira Corrêa, foi acusado de assédio moral e sexual por quatro ex-seminaristas. O caso foi investigado nas esferas judicial e religiosa e, dois anos depois, o processo foi encerrado, definitivamente. Dom Alberto também foi inocentado pela Justiça paraense (Com informações do g-1).
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