Coordenadora do Sintepp, a professora Sílvia Letícia, pré-candidata ao governo pelo Psol, virou alvo preferencial do “gabinete do ódio”, que opera a partir de área nobre da cidade sob o comando de uma candidata do partido a deputada federal com fortes ligações com o chefe de gabinete da prefeitura/Fotos: Divulgação-Redes Sociais-Whatsapp.  

Por Olavo Dutra

A expressão gabinete do ódio entrou no léxico do País com a chegada de extremistas de direita a postos de mando no Executivo federal. Por gabinete do ódio entenda-se uma estrutura – equipamentos de alta tecnologia e pessoal treinado – que desfere ataques ofensivos a diversos alvos predefinidos, com conteúdo de ódio e incentivo, ora à quebra da normalidade institucional, ora a sua preservação a qualquer custo. Trata-se de uma estrutura profissional e dispendiosa, que carece de orientação estratégica permanente e definição exata de objetivos a serem alcançados e de alvos a serem atacados.

É uma arma sem ideologia. Hoje, a esquerda acusa a direita de fomentar a prática, mas, durante as eleições de 2014, a então candidata a presidente Marina Silva (PSB-Rede), insuspeita de ser de direita, acusou o PT de montar uma traquitana tecnológica cuja função era disparar contra sua campanha e ela própria mensagens difamatórias e caluniosas. O gabinete do ódio já existia, só não tinha nome.

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A anatomia da maldade

Em Belém, no momento, circula de mão em mão entre jornalistas um dossiê constituído de 23 páginas com fotos e fac-símile de documentos que aponta a existência de uma milícia digital mantida e patrocinada pelo grupo político do prefeito Edmilson Rodrigues, do Psol. A milícia funcionaria fisicamente em uma “agência de notícias” instalada em área nobre da cidade, à travessa Rui Barbosa, comandada por uma dirigente do Psol local e pré-candidata a deputada federal, com íntimas relações com a chefia de gabinete do prefeito.

O dossiê detalha que no bunker da Rui Barbosa se aglomeram militantes do grupo de Edmilson, muitos deles jovens jornalistas, assessores e estudantes de comunicação, que operam de modo remunerado dezenas de perfis falsos para atacar “adversários e inimigos” da prefeitura e do alcaide, atuando ainda nas redes sociais para elogiar, por qualquer coisa, a atuação do prefeito.

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Aplausos para devaneios

Semana passada, quando Edmilson se dedicou às alegóricas tarefas de apoiar a excêntrica ideia do “Maniçobão do Romeiro”,  a “inaugurar” a reforma de minúscula quadra de esportes a céu aberto ou assinar um inócuo “Tratado de Irmandade” entre Belém e Tifariti, “uma das mais importantes cidades do povo Saaraui”, lá estava a milícia digital de apoiadores fake a bater palmas e postar emojis elogiosos ao prefeito, enquanto a cidade submergia no caos do abandono negligente e na desordem urbana subsaariana.

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Ataque atinge candidata

A última vítima das investidas do “Gabinete do ódio” do prefeito lilás foi a professora Silvia Letícia, coordenadora-geral do Sintepp-Belém e pré-candidata ao governo do Estado pelo Psol, confrontando a vontade política da cúpula da prefeitura, que não quer saber de briga tão cedo com o governador Helder Barbalho, de cujo cabresto não se querem libertar. Mesmo sendo a voz mais ativa de oposição à prefeitura psolista, a professora também integra a direção estadual do partido de Cláudio Puty, Marinor Brito e Vivi Reis.

 “A chuva de fake news tem o claro objetivo de desmoralizar a luta do Sintepp na cidade”, diz Silvia Letícia. “Mas, não vencerão. Muitos governantes já tentaram nos calar e Edmilson é só mais um deles”, conclui.

 “O sindicato em Belém não é coordenado pelo grupo do prefeito, que força, com grupos de militantes profissionalizadas infiltrados nos atos, o recuo das mobilizações comandado pela professora e, por dentro da estrutura partidária, tenta impor a retirada da pré-candidatura da líder sindical, não somente por ela ser do Psol, mas por ser a única mulher a fazer a disputa com Helder Barbalho”, ilustra uma fonte do partido que não quis se identificar.

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E virou caso de Polícia…

Embora a constatação empírica seja possível, o dossiê arreganha provas. Chegou pronto e envelopado, e é fruto de uma denúncia anônima. Foi colocado por debaixo da porta do Sintepp, endereçado à professora Silvia Letícia, com uma carta explicando os motivos da denúncia e garantindo a veracidade das  informações. O caso já foi comunicado à Executiva Nacional do Psol, mas nenhuma providência foi tomada. A Delegacia de Crimes Virtuais da Polícia Civil do Pará também já foi informada e promete investigar a fundo a denúncia para encontrar e punir os responsáveis.