Na entrada do Hospital de Clínicas Gaspar Viana, o retrato da pobreza dorme e amanhece para novo dia de pedidos. Pior para os clientes da agência Banpará, que precisam se submeter ao lixo e a odores desagradáveis sem que haja qualquer providência por parte das instituições públicas, todas acionadas/Foto: Redação.
  

Durante o dia, eles são vistos nas esquinas pedindo um trocado aqui, outro acolá. Às vezes, recebem comida para alimentar-se e às suas crias de colo; no interior de agências bancárias, quer seja na Doca, bairro nobre de Belém, em Icoaraci, Ananindeua ou Marituba, áreas mais afastados, são figuras frequentes sentadas a um canto, com crianças de colo desnutridas choramingando e não raro trocando a paciência pelo desconforto de clientes. Quando a incerta e dolorosa faina diária se esgota, o corpo reclama descanso, mas eles não têm para onde ir, no mais das vezes, e então fazem desses espaços seu lugar de repouso. Entre esses desvalidos há brasileiros e indígenas venezuelanos. Os bolivianos que aqui chegaram formam outro grupo, rico, andam de moto e emprestam pequenas quantias em dinheiro a comerciantes da periferia cobrando juros escorchantes e diários.

Largados à própria sorte

Noves fora as políticas públicas – ou a ausência delas – que empurraram para a linha da extrema pobreza milhares de pessoas Brasil afora, no Pará, e em Belém, especialmente, a situação é cada vez mais grave e tende a piorar. Os auxílios distribuídos fartamente pelos governos municipal e estadual não comtemplam essa camada marginal da população esmagada pela tal pirâmide gulosa e desumana. Largados à própria sorte, eles viraram párias no mundo e são notados mais pelo desconforto que causam do que pela responsabilidade social que deveria nortear os governos e demais poderes constituídos.

Todos fazem que não sabem

 Exemplo flagrante do descaso com essa camada da população, tanto por parte da Prefeitura de Belém quanto pelo governo do Estado – sem deixar de estender a responsabilidade para além das fronteiras da capital, como as demais prefeituras da região metropolitana – está no Hospital de Clínicas Gaspar Viana, bairro da Pedreira, onde a entrada do posto de atendimento do Banpará amanhece em estado deplorável: lixo, colchões, restos de comida, pitucas de cigarro e de maconha e excrementos resultantes de uma noite de descanso. A direção do hospital faz vista grossa, a Funpapa não se manifesta e nenhum outro órgão de assistência social quer saber. Ou melhor, todos sabem, mas viram a cara para evitar um problema para o qual não têm solução. Pobre Belém…