Na fotografia oficial da visita ad limina dos bispos ligados à CNBB Norte 2, que envolve o Pará e o Amapá, ao Papa Francisco, o cerimonial pontifício parece ter se esmerado nos posicionamentos. Coincidência ou não, Dom Teodoro, da Diocese de Ponta de Pedras, foi o que ficou mais perto de Sua Santidade/Fotos: Divulgação-Vaticano.  

Por Olavo Dutra | Colaboradores

Matemática aplicada à Igreja: nem sempre a menor distância entre dois pontos é uma linha reta.

De um observador bem posicionado da coluna na Cúria Vaticana: “Bispos do Pará foram mantidos à distância do Papa Francisco durante a audiência ad limina. O cerimonial pontifício preferiu posicionar próximo ao Santo Padre os bispos do Estado do Tocantins”.

Rigorosamente, em fotos encaminhadas à coluna pode-se notar que o bispo paraense mais próximo do Papa durante a audiência é Dom Teodoro, da Diocese de Ponta de Pedras, considerado uma espécie de queridinho em Roma. Dom Teodoro foi transferido de Belém por razões não muito bem explicadas pela Igreja no Pará, teve atuação discreta, porém decisiva no episódio que envolveu o arcebispo Dom Alberto Taveira e forma hoje, ao lado do atual bispo auxiliar, Dom Antônio Assis, a dupla sucessória da Arquidiocese de Belém, em caso de renúncia – que ele não admite – ou remoção de Dom Taveira.

Dom Teodoro é o quinto sentado a esquerda do Papa Francisco, enquanto Dom Taveira, à direita, aparece em nono lugar, com o bispo de Abaetetuba, Dom José Maria Silva, em décimo, e o recém-nomeado bispo auxiliar da Diocese de Bragança, com direito à sucessão, Dom Raimundo Possidônia da Mata é o último. O que isso significa? Tudo, inclusive nada, mas é fato que a Igreja no Pará está sob os holofotes do sucessor de Pedro e isso sim, significa muito mais do que se imagina.

Enfraquecimento da fé

Não à toa, o Papa Francisco ficou de abordar no encontro o que a Nunciatura Apostólica classifica como “evidente enfraquecimento da fidelização à Igreja Católica no Pará”, mesmo após suas decisões recentes de criar mais prelazias, dioceses e arcebispados na região.  Também ficou de analisar que os católicos do Pará estão ressabiados com a sucessão de problemas, alguns graves, por envolver corrupção com o sofrido dízimo dos fieis e “suspeitas de desvio nos costumes”, o que têm abalado o moral e a missão dos bons padres e missionários.

Os últimos e os primeiros

À luz de Mateus 20:15-16, “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”; à luz de fatos envolvendo o arcebispo de Belém e a Diocese de Bragança, seus respectivos bispos também podem ser, além dos últimos da fila, os primeiros a serem chamados em conclave (conclave: com chave) para explicar ações as quais o Papa Francisco combate frontalmente: a fragilização da fé mediante a perda de credibilidade no comportamento do clero e o tratamento desumano imposto por instituições da Igreja aos seus seguidores. Nesses dois itens o Pará se destaca, inclusive com o silêncio da CNBB Norte 2.

Não se sabe o que foi feito dos processos abertos pela Igreja e pelo Ministério Público do Pará com relação às denúncias de assédio sexual envolvendo Dom Alberto Taveira. Informações não confirmadas apontam para o suposto arquivamento do procedimento.

Um é pouco, três é demais

No caso de Bragança, denúncias de abusos, corrupção, enriquecimento ilícito e outros malfeitos atribuídas à operadora de equipamentos da Igreja – hospital, imóveis, emissora de rádio e outros -, irmã Estelina Oliveira, seguem sem providência por parte do bispo auxiliar, Dom Possidônio da Mata, nomeado de maneira inédita pelo Papa Francisco – em apenas 15 dias – justamente com essa finalidade. A Diocese de Bragança conta hoje três bispos, mas, no caso das denúncias que só tem manchado a Igreja na região, parece não ter nenhum.

MP inspeciona hospital
de Bragança, mas não vê  
“nenhuma irregularidade”

Notícia de fato: a promotora de Justiça de Bragança, Maria Cláudia Gadelha, comandou inspeção, semana passada, no Hospital Santo Antônio Maria Zacaria. A ideia era avaliar os serviços prestados pelo hospital vinculado à diocese, que possui convênio com o Estado e contabiliza 96% dos atendimentos através do SUS.

A inspeção – anunciada – foi motivada por denúncia de falta de medicamentos, formulada pelo Conselho Regional de Farmácia, e denúncia anônima sobre falta de pagamento de pessoal. “No entanto”, diz o MP, “não foi encontrada qualquer irregularidade referente à falta de remédios”. Quanto ao atraso dos salários, a denúncia foi confirmada, “porém”, destaca o MP, “foi constatado que isso vem ocorrendo por atraso do repasse de verba pelo governo do Estado”.

A administradora do hospital, Irmã Estelina Oliveira, avisada previamente da visita de inspeção do MP, segundo fontes da coluna dentro do Hospital Santo Antônio Maria Zacaria, fez o dever de casa.