Ex-senador articula para nomear chefe de Gabinete, vaga disputada pelo quase invisível Marquinho do PT, em articulação com o senador Beto Faro, e para garantir plena gestão, tirando do BNDES de Aloizio Mercadante a chamada ‘Sudanzinha’, abrigada no banco nacional, onde atuam os paraenses Márcio Meira e José Carlos Lima/Fotos: Divulgação.

Por Olavo Dutra | Colaboradores 

Dois empecilhos criados pelo próprio PT exigem um ‘freio de arrumação’ por parte do ex-senador paraense: a disputa pelo cargo de chefe de Gabinete e a criação de um fundo que ameaça fazer sombra à gestão.

Dito e feito: Paulo Rocha foi nomeado para a superintendência da Sudam, ontem, conforme a coluna antecipou no último final de semana. Mas, como não há almoço grátis, o ex-senador paraense tem dois abacaxis para descascar, plantados em sua nova horta pelo próprio partido, o PT: um, o mais cascudo, atende pelo nome de Marquinho do PT; o outro, a tal “Sudanzinha”, criada pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que tem tudo para fazer sombra e ‘assombrar’ na Amazônia, a partir do Rio de Janeiro, ainda que com a presença de dois paraenses – Márcio Meira e José Carlos Lima, do PV.  

O que se diz é que Marquinho do PT trabalha para se instalar ao lado de Paulo Rocha na Sudam como chefe de gabinete. O ex-senador rejeita – tenta fugir do pretensioso como como o diabo foge da cruz. Marquinho é unha e carne com o senador Beto Faro, com quem articula suposta chapa Beto Faro Governador-Maria do Carmo Martins-Senadora em 2026. A mulher dele, Alda Frota, foi chefe de gabinete de Maria do Carmo na Prefeitura de Santarém e ocupou a mesma função na gestão Djalma Melo na Sudam. Hoje, é chefe de gabinete de Alfredo Costa, na Funpapa.

Quanto à ‘Sudanzinha’, é um problema que poderá ser resolvido segundo promessa do presidente Lula, que garantiu manter em Belém um andar inteiro para o BNDES, incluindo as operações do Fundo Amazônia, atualmente concentradas no Rio. O problema de Paulo Rocha, portanto, é mais em baixo.

No fio da navalha

Marcos Oliveira, o Marquinho do PT, é, junto com João Batista, ex-presidente do partido no Pará e ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, um dos quadros internos mais perenes no PT em décadas. Ambos vêm da mesma origem, a militância radicalizada católica influenciada pela Teologia da Libertação e construíram o PT lá de baixo, junto com Paulo Rocha, Valdir Ganzer, Zé Geraldo, Avelino Ganzer, Everaldo Martins, os irmãos Bordalo, Ailton Faleiro e Maria do Carmo, desde os anos 1980.

Beto Faro ingressou no PT, via sindicato rural, imediatamente depois deles. Os dois funcionam como bad cop e good cop, em dupla, revezando-se. Diferentemente de João Batista, que tem perfil conciliador, trânsito com todos e é considerado um diplomata, Marquinho é polêmico e seu alinhamento com Paulo Rocha já produziu atritos relevantes, como o nutrido com o ex-deputado – então vermelho – José Carlos Lima, quando esse ainda não era verde e não tinha aderido à máxima “pequenos partidos, grandes negócios”, que rege a política formal.

Alda Frota, mulher de Marquinho, entrou na Sudam com Maria do Carmo, e ficou lá por uma década e meia, até sair para assumir a chefia de gabinete de Alfredo Costa, que integra com ele o mesmo grupo denominado Unidade na Luta, do qual Rocha e Zé Dirceu são os principais expoentes.

Alda não é um ‘quadro externo’, como se diz no jargão da esquerda. Ela atua para dentro, sendo uma organizadora de fluxo, por assim dizer, das parcerias que surgirem no caminho. A aproximação de Marquinho e João Batista com Beto da Fetagri Faro foi, por assim dizer, orgânica. Petistas, antes de tudo, seguiram a direção da maioria, mas se empenharam mais diretamente na campanha de Airton Faleiro, levando a campanha do Senado com o zelo negligente dos que não torcem contra, mas não trabalham a favor.

A ficção da chapa

A possível chapa Beto Faro-Governador e Maria do Carmo-Senadora, numa eleição em que Helder Barbalho disputará como favorito tanto quando seu companheiro de chapa, só existe como ficção, ou ameaça externa para quem vê o PT como um ente de poder local descolado dos fatores que o levaram Lula e seu partido ao poder novamente: a política de aliança nacional com o MDB e de concessões infinitas às bases no congresso. No Brasil, ninguém governa sem congresso e sem governadores. Alguém imagina o presidente Lula urdindo uma chapa no Pará, às escuras, sem a aquiescência do governador e aliado Helder Barbalho, de seu irmão ministro ou de seu pai, senador Jader Barbalho, parte do panteão de sábios do MDB? Não cabe. Então, vamos subir um lance de escada e ver o que acontece no andar de cima.

Projeto de 20 anos

Helder tem um projeto de 20 anos de poder ou mais. Esse projeto passa pelos oito anos dele próprio, mais quatro anos da economista Hanna Ghassan e, depois, oito anos de Jader Filho, fechando o primeiro ciclo de 20 anos, após o qual Helder Barbalho voltaria para disputar o governo depois de tentar uma candidatura presidencial, hoje improvável.

Em que pese o prestígio local e até mesmo político nacional do governador do Pará, ele é desconhecido do resto do País e sequer é lembrado entre os governadores de maior prestígio nacional, de acordo com pesquisa Ipec divulgada pelo Foro de Teresina, podcast da Revista Piauí, que destaca Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, Romeu Zema, governador de Minas Gerais, e Eduardo Leite, primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul, como os mais influentes e prestigiados do País. O ‘rei do norte’ nem aparece no radar.

Então, como enquadrar duas candidaturas majoritárias do PT no contexto desse macroprojeto emedebista, que hoje tem linha direta com o presidente, conta com aprovação quase unânime da Assembleia Legislativa, a maioria absoluta da reapresentação no Congresso Nacional, o apoio majoritário de prefeitos do Estado e dos favoritos nas disputas municipais?

Convenhamos, seria uma empreitada kamikaze. E o PT local passou do tempo de se aventurar a correr riscos, pragmatismo que passou por osmose para o Psol, seu irmão siamês – mas isso será objeto de uma próxima análise.

Holofotes para Hanna

Antecipar as disputas da sucessão de Helder Barbalho é inevitável para o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, cujo projeto é explícito, mas seria um risco tolo ao qual Beto da Fetagri Faro, jabuti colocado na árvore por mão de gente, não se atreveria sem o sinete “do chefe”, como faz questão de nominar publicamente o titular do Executivo estadual. E não o tem.

Habitué dos corredores palacianos e da cozinha do poder, Faro sabe que Hana Ghassan não está naquela posição do tabuleiro para ser abatida. Prova da seriedade com que o governador leva essa questão estão postas e só não vê quem não quer: além dele, entre todos os personagens que cercam o governador, os holofotes são para Hanna Ghassan e ponto final. A ordem desde é submergir as demais, para não criar sombreamento, rareando as demais presenças femininas, seja quem for.

Quem tiver paciência para comer junto, sentará no banquete; quem quiser comer sozinho, padecerá o ostracismo.