A comissão de deputados da Assembleia Legislativa do Pará instalada para discutir e buscar soluções aos sérios entraves da navegação fluvial no Marajó e no Baixo Tocantins tem tudo dar em águas de barrela ou, no português claro, para dar em nada – para desespero da população da região. A empresa Bom Jesus, uma das maiores e mais ricas, pertence à família Rebelo, que tem o deputado Luth Rebelo como membro da comissão. Não bastasse, ainda conta com a presença da deputada Ana Cunha, cuja família é dona da empresa Arapari Navegação.
Serviços precários
Não à toa, tão logo informadas sobre a instalação da comissão no parlamento estadual, as redes sociais no Marajó comentavam que se trata de ‘caso típico de botar a raposas para cuidar do galinheiro’. Com todo o respeito que merecem os deputados, prudente seria abrir mão do convite para evitar comentário desse tipo. Afinal, até hoje, principalmente depois do acidente com a embarcação “Dona Loures II”, às proximidades da Ilha de Cotijuba, em Belém, a população tem reagido ao retorno das operações da Arapari Navegação, acusada sistematicamente de oferecer serviços precários e embarcações que mais apresentam problemas na navegação na região.
Mais do mesmo
Dois dias atrás, por exemplo, embarcação com quase 300 passageiros da empresa Bom Jesus sofreu pane no meio da viagem para Breves e teve que retornar à Belém, sob pena de ficar ao sabor da forte maresia na Baía do Marajó. Na ocasião, a empresa manteve os passageiros apenas com café durante 24 horas dentro da embarcação, que só retomou a viagem na noite seguinte, prejudicando a vida de muita gente.
A verdade é que o fantasma do naufrágio que vitimou 23 pessoas em Icoaraci deverá assombrar a comissão de deputados como continua assombrando a população de Soure, Salvaterra e outros municípios do Marajó. Que vai ser difícil vencer a desconfiança não há dúvida.
‘Petição de miséria’
A noção de que empresas – seja qual for o segmento – vivem de lucro não cabe para as operadoras da navegação fluvial no Marajó e região do Baixo Tocantins. Rigorosamente, o governo do Estado não concede reajuste compensatório às operações há quase seis anos, obrigando as empresas a uma situação que, sem exagero, está mais para petição de miséria, ante aumento de preços dos combustíveis e de encargos sociais. Por outro lado, ao menor sinal de reajuste, a população dessas regiões protesta porque, via de regra, não tem como pagar e segue o mesmo jogo de empurra de sempre.
Fim do mundo
Como os empresários, por qualquer razão, não pressionam o governo, os serviços oferecidos são cada vez mais precários e, não raro, prejudiciais aos passageiros. Empresas de grande porte que operam no Marajó têm espichado os olhos para o mercado do Maranhão, onde as tarifas praticadas com aval do governo local também não lá muito atraentes. Resumo da ópera: o Marajó parece o fim de mundo.