Fuga para festas no interior

vira risco calculado em Belém

Há certa hipocrisia envolvendo parte da população da Grande Belém – senão do Estado -, governos e autoridades sanitárias em meio ao indisfarçável recrudescimento de casos de contaminação por Covid-19. Todas as medidas de segurança emitidas para evitar a propagação da doença parecem ter entrado por um ouvido e saído pelo outro. O que se viu até ontem de gente atravessando a Baía do Guajará para chegar ao Marajó, ou tomando outros portões de saída da cidade dá a dimensão da pouca importância à pandemia.

Seja feita

A região do Marajó parece ser o principal destino nestas festas de fim de ano. Balsas e embarcações diversas transportaram milhares de pessoas de quarta-feira até ontem. Em Salinópolis, onde a Justiça supõe ter restringido festas e réveillons, a situação não é diferente, tanto quanto em Mosqueiro. Então, fica combinado assim: cada um é dono do seu próprio umbigo e faz dele – ou com ele – o que bem entender. Boas festas.

Puxar e levar

Depois de tecer rasgados elogios ao governador Helder Barbalho e de apoiar abertamente o deputado Priante para prefeito de Belém com bandeira e foto estampadas nas redes sociais, o tenente-coronel Marcelo Ribeiro Costa (foto) foi recompensado com o cargo de coordenador de Infraestrutura – DAS-4 – da Secretaria de Articulação da Cidadania. Se ele entende ou não do que vai fazer é outro caso, mas se outros militares seguirem seu exemplo vai faltar cargo na administração estadual e a PM acabará esvaziada.

Divulgação

Água cara

Há um temor, exceto entre os negociadores, com relação à água com status de ativo comercializado na bolsa de valores, como ocorre com o ouro e o petróleo. Recentemente, a água começou a ser negociada como commodity em contratos futuros na Bolsa de Nova York. O que se diz é que, desde 2018, havia um movimento para criar um mercado de outorga de água a partir de um título financeiro negociável, mas especialistas apontam para a possibilidade de que essa providência tem tudo para encarecer o uso do produto.

Apaga a luz

O custo de energia elétrica, tanto no Brasil quanto no Pará, especialmente, reside na equação de precificação, que é diretamente proporcional à extensão da linha de distribuição e inversamente proporcional à quantidade de consumidores. Como o Pará tem grande extensão geográfica e baixa densidade demográfica, a energia elétrica fica mais cara – nó górdio que ninguém consegue desatar, nem batendo nas barras da Justiça, como tem tentado a Procuradoria-Geral do Estado, mesmo em tempos de pandemia.

Apesar de tudo 

Em ano atípico para os esportes, onde as competições terminam somente em 2021 e os estádios estão sempre vazios, há que se valorizar clubes e atletas que sofreram com a Covid-19. A pandemia subtraiu recursos financeiros e desmotivou muita gente, mas aos atletas restou suportar o calor do verão, que bate acima dos 35 graus nesses meses. Aqui, a possibilidade de ver Remo e Paysandu na Série B de 2021 tem motivado a torcida a adquirir ingresso virtual como forma de honrar o salário dos atletas e comissão técnica.

Boas festas

O Juízo da Vara Distrital de Mosqueiro proibiu a armação de barracas e tendas, festas e a utilização de aparelhos sonoros até 3 de janeiro. O juiz titular José Torquato de Alencar concedeu a liminar em ação civil pública ingressada pelo MP durante o plantão judiciário. Foi determinada ainda multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento, a ser aplicada no particular que a descumprir e no agente público que negar seu cumprimento ou tolerar o seu descumprimento.

Mãos às armas

A indústria bélica dos EUA abriu caminho para se instalar no Brasil e deve começar a fabricar armas leves e pesadas, incluindo fuzis,  através da Imbel, a indústria estatal do governo brasileiro que abastece as Forças Armadas. Detalhe: as negociações correm através do filho número 1 do presidente Jair Bolsonaro, deputado  Eduardo  Bolsonaro, que defende o projeto como forma de diminuir o preço das armas de fogo, melhorar a qualidade dos armamentos e quebrar a hegemonia da brasileira Taurus, que domina o mercado há décadas. Se bobear, as armas chegam antes da vacina contra a Covid 19.

Discurso azedo

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro tem participado de todas as formaturas e cerimônias militares e até da Polícia Federal, onde faz discursos prontos para os novos formandos e eivado de rancor contra a grande mídia. “Essa imprensa jamais ficará do lado da verdade, da honra e da lei. Será sempre contra vocês”, tem dito o presidente belicista sem o menor poder de fogo, mas quase sempre sai aplaudido desses eventos. 

Espia no espaço

Ano que vem, a Capela Space, baseada em São Francisco, Califórnia (EUA), irá lançar mais um satélite espião no espaço, equipado para “enxergar” mesmo à noite e em quaisquer condições climáticas. Por exemplo: uma pessoa que estiver lendo um jornal em praça pública será identificada, tanto quanto o próprio título da matéria. A tecnologia não é nova. O governo americano já a utiliza para espionar amigos e inimigos desde 1970. A novidade é que qualquer um poderá comprar esse serviço, que era de uso exclusivo do “Tio Sam”. 

Via estratégica

A Secretaria de Transporte do Estado promete para o mês de maio do ano que vem o asfaltamento dos oito quilômetros da PA-380, que liga a vila de Quatro Bocas ao centro urbano de Nova Timboteua. Apesar de relativamente curta, a via é estratégica para quem vende o que produz no campo para cidades interligadas por essa rodovia. Faz tempo que muita gente prefere usar a BR-316, de trajeto mais longo, tamanho é o estrago na PA-380.

Polo da Uepa

A Universidade do Estado do Pará estuda implantar um Polo Universitário em Tucumã, na região sul do Estado. O município fica bem no meio da PA-279, cercada por cidades maiores, como Xinguara e São Felix do Xingu, que já possuem cursos de nível superior, mas ainda assim distantes de Tucumã. O polo também atenderia estudantes da cidade de Ourilândia do Norte, que fica a apenas sete quilômetros de Tucumã.

INSS explica

A gerência-executiva do INSS Belém esclarece que a Agência da Previdência Social do bairro do Jurunas foi desativada em 4 de dezembro de 2019, com ato administrativo publicado em resolução da presidência do INSS, em Brasília. Segundo a nota, há uma ação de modernização dos serviços previdenciários que, no caso em questão, prevê a estruturação da Agência Central de Análise de Benefício de Manutenção da Superintendência Regional Norte, com remanejamento da codificação.

Nada a ver

Ainda conforme a nota, os servidores da APS Belém-Jurunas foram relotados no âmbito da Gerência-Executiva do INSS Belém, sendo a maioria deles destinada para a Agência Digital-Belém. Desde maio de 2018, a Agência do Jurunas, que funcionava no 1º andar do Edifício-sede da GEX-Belém, à avenida Nazaré, nº 79, e a microrregião dos benefícios, pertencentes à Unidade do Jurunas, foram transferidos para a Agência Central. A nota não menciona, mas sugere que o fechamento da Agência não teve corrupção como motivação.

  • Grande operador do Pará, talvez o maior, resolveu construir mansão em condomínio fechado na Praia do Farol Velho, no Atalaia, em Salinópolis, Costa Atlântica paraense.
  • O terreno, originalmente pertencente a dois proprietários, foi dividido. Resta saber agora se ficará no nome do operador ou em nome de terceiros, como manda o modus operandi.
  • Servidores terceirizados da empresa Itororó Service que atuam no Instituto Evandro Chagas estão sem receber há mais de três meses.
  • O atual diretor do Instituto, pesquisador Jorge Travassos, ainda não se dignou a pressionar a empresa para resolver o problema, muito menos levou o caso ao MPF. Por que será?
  • Veja que absurdo: o Terminal Hidroviário de Belém estima que quase 30 mil pessoas deverão passar pelo terminal de passageiros durante as festas de fim de ano.
  • Não é nada, isso representa algo em torno de 10% a mais em relação a igual período do ano passado – e justamente em meio ao recrudescimento dos casos de Covid-19.
  • A Justiça do Pará autorizou a saída temporária de Natal de quase 500 custodiados do Sistema Penal, mas o fez por etapas, para evitar aglomerações.
  • No total, 300 internos saíram com o uso de tornozeleiras eletrônica para monitoramento e 152 sem monitoramento. Esses detentos ficaram de retornar na próxima quarta-feira.
  • Segup e SPU fecharam acordo para a construção da sede do Centro Integrado de Comando e Controle de Salinópolis, que irá funcionar em operações em períodos de férias escolares, feriados prolongados e festas de final de ano em uma barraca montada na praia.
  • As instalações, em madeira doada, são apropriadas para planejamento e execução de ações. O projeto valoriza um modelo arquitetônico moderno e 100% sustentável e tem formato de… pentágono.
  • Dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras apontam que, desde março deste ano, 445 pessoas foram parar em hospitais vítimas de queimaduras provocadas pelo uso de álcool em forma de gel ou líquida.
  • A Associação dos Moradores do Conjunto Bela Vista, em Val-de-Cans, está aparentemente acéfala. Ninguém sabe, ninguém viu o presidente nas últimas semanas.
  • Aliás, a única coisa claramente visível no conjunto são montes de lixo aguardando coleta, providência que o presidente deveria tomar junto à Prefeitura de Belém.
  • O advogado Gilberto Araújo, ex-integrante do Tribunal de Justiça Desportiva, acaba de ser nomeado assessor da Presidência da FFP – leia-se Adelson Torres.
  • Como nem tudo é o que parece ser, especula-se que o novo assessor é “sombra” para o atual diretor Jurídico, Antônio Cristino, que já está com as barbas de molho.
  • Pausa: a coluna entra em recesso, a partir deste final de semana, retornando com nova edição terça. Aos nossos leitores, Feliz Natal!

Educação

O professor e os desafios do Ano Novo

Carla: “tudo que é novo desacomoda”.

Por Carla Jarlicht *

A rotina diária de um professor é bastante desafiadora, e por vezes, exaustiva. A categoria enfrenta baixos salários, carga horária extensa, falta de estrutura e segurança nas escolas, falta de suporte e tantos outros problemas. Quem pensa que o trabalho do professor se encerra quando ele termina o seu turno de trabalho está bastante equivocado. Há ainda as tarefas de planejamento, verificação de materiais dos alunos e pesquisa que, invariavelmente, são realizados em casa – e sem remuneração -, depois do seu horário de trabalho. Para além disso, há o vínculo afetivo construído por quem trabalha diretamente com pessoas diariamente, portanto, os professores envolvem-se com seus alunos, preocupando-se com eles dentro e fora da sala de aula. Apesar desse vínculo ser desejável e, muitas vezes, condição para o desenvolvimento do trabalho, ele pode ser também mais um ingrediente de pressão quando o professor não encontra parceria, seja com o aluno, com a própria família ou com a escola. Esse conjunto de fatores pode afetar a saúde mental dos professores que se sentem e são extremamente exigidos pela sociedade, pela escola, pelas famílias de seus alunos, pelos próprios alunos e por eles mesmos, que querem realizar um trabalho de qualidade. Caso esses excessos não venham acompanhados de um suporte consistente da escola, gestores e coordenadores podem se tornar extremamente pesados, acarretando problemas de saúde como estresse e depressão.

Com a mudança repentina para as aulas remotas e a necessidade de lidar com um cenário totalmente novo e com novas tecnologias, muitos professores sentiram piora na saúde mental. Por que isso acontece? Que fatores dessa nova realidade afetam o emocional e psicológico desses profissionais?

Tudo que é novo desacomoda e inquieta até se tornar conhecido. E devido à pandemia tudo teve que acontecer sem muito planejamento, o que gera ainda mais desconforto. Somada a todas as questões desafiadoras já sabidas, os professores tiveram que dar conta também de uma mudança drástica na sua prática de sala de aula. A maioria sequer havia recebido formação para trabalhar remotamente, muitos nem acesso à internet de qualidade tinham e outros nem as ferramentas necessárias. Tudo isso contribuiu para o aumento do estresse. E para além de todas as mudanças ocorridas havia ainda todos os temores pessoais, novas precauções e lutos trazidos pela pandemia. A sala de aula passou a acontecer na casa de cada um, com muitas diferenças quanto à recepção e à percepção de cada aluno – e suas famílias – quanto ao novo modo de trabalho. Foram – e são ainda – muitos os questionamentos, que vão da estrutura do trabalho remoto em si à dúvida sobre a eficácia da aprendizagem do aluno, passando pela necessidade da parceria das famílias e do apoio da escola e pela qualidade do próprio trabalho que está sendo realizado. Imagine que o professor é aquele acrobata que roda vários pratinhos ao mesmo tempo. Todos estão ao seu alcance e nenhum deles pode cair. Todos os seus pratinhos são bem diferentes uns dos outros. Se essa situação já provoca certa ansiedade, imagine se, de repente, surge um obstáculo entre ele e os pratinhos. Os graus de ansiedade e de tensão aumentam. Tudo isso pode gerar mais ansiedade, angústia, fadiga mental, principalmente, quando o professor não encontra o apoio necessário. Afinal, os pratinhos do professor são inteiramente diferentes daqueles do acrobata e não têm reposição.

Em muitos locais, o ensino remoto migrou para o ensino híbrido, no qual os professores precisam dar aulas presenciais e continuar dando aula remota. Como essa nova mudança pode afetar os professores? Muitos têm comentado sobre o medo de pegar o vírus e contaminar seus familiares e sobre a carga maior ainda de trabalho.

Considerando ainda que estamos imersos no frágil e incerto contexto da pandemia, é possível que os professores estejam se sentindo inseguros, principalmente em relação à sua saúde e a de seus familiares e pessoas próximas. Isso precisa ser legitimado pela escola, que por sua vez necessitará investir no diálogo com seu corpo docente para que juntos possam alinhar expectativas e pensar em outras estratégias para essa nova etapa escolar contemplando o bem-estar de todos, especialmente dos professores, pois são eles que estão na linha de frente com seus alunos.

* Carla Jarlicht é psicóloga e consultora educacional.