Por Pedro Paulo Blanco
Doze minutos. Esse foi o tempo que durou a alegria dos brasileiros na partida em que o Brasil foi derrotado pela Croácia nos pênaltis na última quinta. Neymar abriu o placar aos 15 minutos do primeiro tempo da prorrogação e Petkovic empatou aos 11 da segunda etapa do tempo extra. Prova de que, no português claro, no País do futebol, alegria de pobre dura pouco. Em campo, derrotados e em prantos, os jogadores ficaram sozinhos: o arrogante técnico Tite fugiu para o lugar de onde nuca deveria ter saído – os vestiários
Mas a pobreza não está no povo que chora o luto de uma seleção bilionária, e sim nas estratégias de quem tem nas mãos um País com capacidade para montar cinco seleções competitivas simultâneas para mundiais e não consegue reunir, sequer, um único grupo capaz de fazer frente aos times europeus. Desde o penta, em 2002, essa foi a quarta eliminação em quartas de finais para times do Velho Continente – na única vez que passou dessa fase o Brasil venceu a Colômbia, em casa.
Ressalte-se, ainda, a familiaridade dos escolhidos por Tite com o futebol europeu. Dos 26 convocados para a Copa no Catar, somente três jogam em times nacionais – dois no Flamengo e um no Palmeiras -, o que tornou a seleção a mais “estrangeira” no histórico de todas as Copas. A última vez que a Canarinho teve mais jogadores com atuação no Brasil foi em 2002, com 13 atletas.
Além disso, os 22 brasileiros em questão atuam em diferentes países da Europa e. Sem tempo para uniformizar o grupo, restou ao treinador contar com um elenco de estrelas, salários astronômicos, mas qualidades individuais, onde o talento nasce e morre em cada um, sem fazer brilhar. Ao fim e ao cabo, o Brasil é uma miscelânea de gênios individuais e a derrota para Camarões já havia acendido o sinal de alerta.
Na busca por culpados para a derrota de quinta-feira, sobrou para o técnico Tite, muito criticado por ter aberto a sessão de cobranças de pênaltis com o jovem Rodrygo, que nunca havia cobrado uma única penalidade pela Seleção Brasileira. Outros – inclusive o pentacampeão Ronaldo – atribuem o fracasso ao apagão que afetou o Brasil após ter aberto o marcador com Neymar. O time parecia andar em campo e a marcação deu espaços fatais para o time croata.
Com a derrota, o Brasil retornou do Catar já na madrugada de sábado. A Croácia, que segue no Mundial, vai enfrentar a Argentina, que também sofreu, mas levou a melhor na disputa por pênaltis contra a Holanda. A outra semifinal contará com o surpreendente time do Marrocos – primeira seleção africana a chegar a uma semifinal de Copa do Mundo – que venceu Portugal por 1 a 0. Quem manda os portugueses acabarem o estoque de gols no jogo contra a Suíça…
A seleção marroquina terá pela frente a superentrosada França, que eliminou os ingleses por 2 a 1 e segue com pinta de campeã. Há quem veja no time francês favoritismo suficiente para apostar em um tri no Catar, mas um favoritismo criado a partir do que o time francês tem apresentado em campo, e não pela ilusão das estrelas bem pagas que integram o elenco, como aconteceu no caso do Brasil.
Copa do Mundo Europeia
No Catar, 72% dos jogadores convocados – de todas as seleções – atuam na Europa. É o índice mais alto desde 1990, quando a legislação abriu os clubes para atletas de outros continentes. Curiosamente, a Itália – fora do mundial – é o quarto país que mais contribuiu para a lista de convocados para a Copa do Catar, com 71 atletas.
Os demais convocados são distribuídos da seguinte forma: 80 atletas da América Central (9,62%), 58 do Oriente Médio (6,97%), 26 da África (3,24%), 24 da Ásia (2,88%), 22 da América do Sul (2,64%) e 7 da Oceania (0,84%). Dos jogadores que atuam na Europa, 157 estão na Inglaterra, 88 em clubes espanhóis e 84 na Alemanha.
Esse êxodo na busca por dinheiro e fama também é responsável por qualificar o futebol nessa parte do planeta. Não à toa, os europeus conquistaram as últimas quatro edições da Copa do Mundo: Itália em 2006, Espanha em 2010, Alemanha em 2014 e França em 2018. E, no Catar, duas seleções do velho continente seguem na disputa: Croácia e França.
Por falar em estrangeiros…
Neste ano, três brasileiros passaram pelo Catar para defender a seleção de Portugal: o zagueiro Pepe – no quarto mundial com os portugueses – e os estreantes Matheus Nunes e Otávio. Matheus, inclusive, rejeitou uma convocação de Tite para defender o Brasil e optou por Portugal.
Prêmio de R$ 86 milhões
Com a eliminação nas quartas de finais da Copa do Mundo, o Brasil vai receber uma premiação de US$ 17 milhões (R$ 86 milhões). Esse é o prêmio pago a todo time que chegou às quartas de finais, diga-se de passagem. No total, a Fifa vai pagar mais de R$ 2 bilhões em premiações no torneio – 10% a mais do que na Copa da Rússia, em 2018. O valor também é o maior da história do torneio.
Pior colocação desde 90
Encerrados os jogos das quartas de final da Copa do Catar, o Brasil terminou a competição em sétimo lugar. Foi a pior colocação desde 1990, quando a Seleção Brasileira caiu nas oitavas de finais para a Argentina e terminou em nono lugar.
Tite já vai tarde
Em fevereiro deste ano, Tite afirmou que o ciclo à frente da Seleção Brasileira encerraria com ou sem o hexa. Jornalistas, técnicos, ex-jogadores e palpiteiros de todas as espécies chegaram ao consenso sobre cinco possíveis nomes para assumir a Canarinho: Mano Menezes (Internacional – Brasil), Abel Ferreira (Palmeiras – Brasil), Dorival Junior (sem time no momento), Jorge Jesus (Fernerbahce – Turquia) e Pepe Guardiola (Manchester City – Inglaterra) – este último, mais sonho que palpite.
O certo é que a casa precisa ser arrumada porque em março começa a “data Fifa” e a CBF não abre mão de usar o período – entre os dias 20 e 28 – para colocar a Seleção em campo. Há, inclusive, a possibilidade de trazer a Canarinho a Belém para reinaugurar o Mangueirão.