Por Olavo Dutra
Ainda é possível encontrar no Youtube vídeo de 2018 no qual o senador Jader Barbalho, ladeado por Zequinha Marinho, recomenda ao eleitor dele, Jader, depositar seu segundo voto no pastor que o acompanhava na chapa. “Se você vai votar em mim, dê seu segundo voto ao Zequinha”, dizia o patriarca da família Barbalho em vídeo de propaganda eleitoral. Jader venceu – inclusive em Belém, onde até então sua rejeição desencorajava prognósticos otimistas – e levou Zequinha consigo para o Senado, sem ter com o ex-vice-governador qualquer tipo de afinidade, seja política, ideológica, religiosa ou empresarial. Pessoas próximas dizem que Jader jamais teve ilusão em uma relação longeva com Zequinha. Estava apenas cumprindo um acordo, como quem paga um boleto vencido sem ter, acerca dele, qualquer julgamento moral. Era uma obrigação. E foi cumprida.
Tal pai, tal filho?
Alguns observadores afiançam que o filho Helder Barbalho teria herdado do pai o mesmo apreço à palavra. E isso seria o motivo central da insistência em manter no palanque pré-eleitoral o pesado Beto (da Fetagri) Faro. Mas espere de Helder em relação a Faro o mesmo gesto de generosidade que seu pai exibiu em público ao emprestar apoio a um político que se notabilizara por não cumprir acordos – Zequinha, é voz corrente, traiu a confiança do então governador Simão Jatene e inviabilizou sua candidatura ao Senado em 2018.
Pecados a pagar
Nesse particular, Beto também tem pecados a pagar. Que o diga Paulo Rocha, senador no exercício do mandato, impedido de disputar a permanência no cargo por um golpe de mão do deputado-presidente do PT, que jamais teria conseguido o posto sem um acordo costurado pelo próprio Paulo Rocha. Introduzido na cena sindical pelas mãos de Paulo Rocha e Waldir Ganzer, José Roberto Oliveira Faro, conhecido então como Beto da Fetagri, era um simples agricultor com ensino fundamental até emergir dirigente nos círculos petistas da então Articulação, grupo ligado a Lula e aos sindicalistas do ABC, e que tinha como expoentes principais no Pará o gráfico Paulo Rocha e os agricultores Waldir e Avelino Ganzer.
Operação Faro-Oeste
Pelas mãos do então deputado Paulo Rocha, Faro assumiu a superintendência do Incra em Belém em 2003. Em 2004 foi exonerado, após ser preso, acusado de receber valor superior a R$ 300 mil em propinas para autorizar, de forma ilegal, a regularização de terras da União para plantadores de soja e madeireiros no oeste do Pará. As acusações também incluíam formação de quadrilha, invasão de terras públicas, corrupção ativa e passiva e crime contra a ordem tributária. O nome da operação da Polícia Federal que prendeu o ex-presidente da Fetagri, “Faroeste”, era inclusive uma junção do sobrenome “Faro” e de “oeste”, região do Pará onde ocorriam as operações criminosas. Faro foi preso no Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, por determinação do juiz federal Fabiano Verli.
Mão amiga de novo
Em 2007, contudo, a mão amiga de Paulo Rocha viria a socorrer Faro mais uma vez. Ao renunciar ao mandato de deputado federal, Rocha permitiu que Beto (da Fetagri) Faro assumisse o mandato, ganhando o providencial direito à prerrogativa de foro que o manteve longe da encrenca que uma condenação acarretaria. O inquérito envolvendo o deputado chegou ao Supremo o Tribunal Federal apenas em 2014, mesmo ano em que o humilde agricultor já declarava patrimônio de R$ 835 mil. O inquérito se arrastou até o dia 9 de agosto de 2020, quando o despacho da ministra Rosa Weber determinou a remessa do inquérito de volta à Justiça Federal do Pará, onde dormita.
Ninguém explica como o humilde agricultor familiar, sem formação, nascido em uma vila de Bujaru, no crotão do Pará, e que só exerceu atividades sindicais, mandatos e delegações pode hoje residir em um dos condomínios mais luxuosos e caros de Belém, onde uma casa custa entre R$ 3 e R$ 6 milhões. Nem se economizasse todo o salário de depuradora conseguiria comprar a casa onde Beto da Fetagri e a esposa Dilvanda Faro resistem.
O ultimato
Mesmo rico e no comando de um partido com tempo de tevê e fundo eleitoral invejáveis, Beto vê sua campanha ao Senado paralisada e sem indícios de superação da inércia interna. Mas segue ativo nos bastidores, onde transita com desenvoltura e acaba de dar um ultimato ao governador aliado. Quer que o ex-prefeito Manoel Pioneiro, o representante majoritário da República de Ananindeua na disputa, desista do Senado em troca da presidência da Assembleia Legislativa, caso se elegesse deputado estadual, claro, o que não seria difícil. Em escala menor, Flexa Ribeiro também está sendo “aconselhado” a desistir da disputa majoritária para disputar uma cadeira na Câmara Federal, destino indicado por Helder para a também postulante à vaga do Senado, Ursula Vidal, após pesquisa de opinião indicar seu favoritismo.
Helder está limpando o terreno e tenta, por todos os meios, cumprir o acordo. Mas Beto patina, enquanto o tempo passa – e o tempo, já dizia vovó Rosa, só corre a favor dos vinhos.