Nova temporada de denúncias contra a Agência, algumas vazias, tem o condão mostrar que diretor de Fiscalização, Wildson Mello, mantém relações próximas com empresário detentor de concessões para exploração de linhas de transporte na região nordeste do Estado.
O povo brasileiro cunhou a expressão ‘vá reclamar com o bispo’ por conta do fato de que, no passado não muito distante, cabia aos padres católicos apontar o cidadão com direito a votar. No caso em que a pessoa era rejeitada como eleitor, a única chance de exercer esse direito seria a concordância do bispo, dono da palavra final.
De certo modo, o ditado parece valer para a caixa de entrada de e-mails da coluna, com uma diferença: não são pessoas pedindo autorização para votar, mas para denunciar supostos malfeitos na Agência de Regulação e Serviços Públicos, a famosa Arcon, depois de queixas à Capitania dos Portos e a outros setores do Estado, sem respostas.
Uma das denúncias aponta que duas embarcações que saem do Terminal Hidroviário de Belém rumo ao Porto do Camará, em Salvaterra, no Marajó, estariam operando de forma irregular, com a conveniência da Arcon. As embarcações são a “Atlântica” e a “Ana Beatriz”.
Segundo a coluna apurou, essas lanchas entraram em operação depois do naufrágio da embarcação “D. Lourdes II”, na Ilha de Cotijuba, em Icoaraci, ano passado, deixando mais de 20 mortos. Ambas atuam de forma temporária, com base em autorização provisória do Estado.
Outra denúncia se refere a uma suposta frota clandestina de transporte rodoviário circulando na região do município de Igarapé-Açu e nada mais se sabe, exceto que, como nos demais casos, a Arcon é protagonista.
“Navegar é preciso…”
O que se diz é que a Agência de Regulação do governo do Pará continua funcionando como balcão de negócios, onde o público e o privado se misturam e se exibem sem o menor pudor.
O diretor de Fiscalização da Arcon, por exemplo, Wildson Mello, tem sido visto costumeiramente em finais de semana passeando de lancha pelas ilhas que circundam Belém em companhia de empresários do ramo do transporte coletivo rodoviário intermunicipal, como Ernandes Chaves, dono de concessões para exploração de linhas de ônibus e vans para Vigia, Salinópolis e Bragança, em nome dele e de terceiros.
“Jack Leclair” tupiniquim
A promiscuidade é tão gritante, segundo fontes da coluna, que Ernandes é conhecido na Agência e no segmento do transporte alternativo como “Jack Leclair” – personagem da novela global “Ti-ti- ti’, interpretado pelo ator Reginaldo Faria -, por ser a figura que ‘costura tudo’ na Agência, sob a direção, digamos, de Wildson Melo, ex-vereador de Marituba.
O comentário é de que Ernandes Chaves vende facilidades aos quatro ventos na Agência, usando nomes e fotos dos diretores, e diz que sua hábil interlocução chega ao gabinete do diretor-geral, Eurípedes Reis, indicado pelo deputado estadual Chamonzinho.
Se non è vero, è ben trovato
Se é verdade que as fotos não mentem, as imagens expostas pelo empresário em suas redes sociais devem dizer, no mínimo, que as águas nas cercanias de Belém são plenamente navegáveis…