Invasão do NPI, discussões acaloradas entre manifestantes a favor e contra a greve e cadeados marcam a única paralisação de uma universidade federal em todo o País. O reitor Emanuel Tourinho (no detalhe) segue dando tempo ao tempo, ignorando o prejuízo que se acumula para a comunidade acadêmica desde o início da pandemia e pinta a UFPA como uma simples escola pública/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.

Por Olavo Dutra

Dois vírus foram injetados e contaminam a greve deflagrada pela Associação dos Professores da UFPA, ambos do mal: o da má vontade política para por fim ao movimento inconsequente e o da boa vontade política para mantê-lo. Nos dois casos, não haverá vencedores; muito pelo contrário: sobrarão derrotados – os mentores da greve, que, no conjunto da obra, também atendem pelo nome de Adufpa, cujos associados não receberão um centavo do governo federal por conta da legislação eleitoral, e a comunidade acadêmica, que passa a somar mais uma temporada à paralisia de dois anos imposta pela pandemia.

Começa que a greve foi deflagrada sem amparo legal. É abusiva, mas, sobretudo, ilegal – e o reitor Emanuel Tourinho sabe disso. A Adufpa, “enquanto associação”, na linguagem preferida do movimento, não tem amparo legal para decidir por paralisações. Tratando-se apenas de uma associação, o que lhe cabe é opinar; nunca decidir. Essa iniciativa é privativa de sindicatos, conforme diz a lei.

No caso desta greve, a associação, por esperteza, sequer cumpriu os ritos legais, como publicar a decisão em jornais de grande circulação – e o reitor Emanuel Tourinho sabe disso. Ele e seus tutelados na Adufpa – cuja presidenta, professora Edivânia Alves, em pleno exercício do cargo, é candidata à Câmara Federal – e, queira ou não, a presidente do Sindiproifes, professora Socorro Coelho, para quem o que o senhor reitor fala é lei. Enfim, todos sabem, todos se calam e os estudantes pagam o pato antes do Círio porque ignoram as regras do jogo.

Jogo de vontades políticas

Uma pergunta recorrente entre professores cansados de paralisações – embora todos precisem de salários atualizados – beira o patético, mas explica as ‘vontades políticas’ mencionadas acima: “O Ministério Público Federal existe?” “Será que ninguém consegue se perguntar qual o custo real e verdadeiro que acarreta, para o futuro de uma sociedade e das gerações presentes e vindouras, uma paralisação ou greve por parte de uma academia supostamente produtora de conhecimentos, inovações, invenções e tecnologias?” “O que foi contabilizado como atraso educacional por conta da pandemia já foi esquecido?”

O problema é que os representantes da comunidade que se sente prejudicada optaram por calar – a Adufpa, por óbvio, o Sindiproifes, por conveniência e até a antiga Procuradoria da UFPA, atualmente ligada à Advocacia-Geral da União, com integrantes encastelados na Universidade. Caberia, portanto, ao próprio reitor Emanuel Tourinho conduzir as negociações entre as partes e evitar o vexame nacional pelo qual passa junto aos seus pares no Fórum Nacional de Reitores, onde aparece como o único reitor cuja universidade insiste em uma greve sem resultados no curto prazo em todo o País.

O pior ainda está por vir

Em entrevista à coluna, a professora Socorro Coelho, presidente do Sindiproifes, admitiu a “ilegalidade” e a “abusividade” da greve deflagrada pela Adufpa, mas nem de longe se manifesta disposta a judicializar o movimento.  Socorro Coelho esteve com o reitor e ouviu dele a garantia de que o calendário acadêmico está em vigor (Veja link: 13 de junho de 2022, 08:00h). Sua maior preocupação, na verdade, é com a validação das aulas que vêm sendo dadas por professores indiferentes à greve e que a Adufpa deve contestar no Conselho Superior, onde também tem assento. Quanto ao reitor, não se sabe o peso que colocará nessa avaliação, muito menos se sabe se haverá corte de ponto e, nesse caso, quem arcará com os prejuízos.

Tempo, o senhor dos vinhos

Entre a cruz e a caldeirinha em que se encontra, o professor Emanuel Tourinho jamais se preocupou em juntar as peças do quebra cabeças da paralisação na UFPA – os representantes dos maiores interessados na Universidade, os estudantes que, por razões para além de suas vontades, veem o encerramentos dos seus cursos – ou o início – desaparecer na escuridão do fim do túnel. Apenas esboça como gesto de boa vontade para levar a cabo sua magnífica missão um patético pedido de paciência, como se o tempo estivesse a seu favor.

O tempo, senhor reitor, só favorece os vinhos…