Livro do jornalista paraense Ullisses Campbell revela detalhes sórdidos de rituais e orgias com os “filhos”
A suposta adoção de crianças e adolescentes que viviam em situação de abandono, e que chegou a passar de um total de 50, alçou Flordelis ao estrelato na década de 1990 e até ao cargo de deputada federal. Em novembro de 2022, ela foi condenada a 50 anos de prisão pelo assassinato de Anderson do Carmo.
Dedicado a desvendar as origens da figura pública que enganou o Brasil com sua fachada benevolente, o jornalista Ullisses Campbell conversou com a mãe, os filhos, parentes e outras pessoas que conheciam intimamente a rotina da assassina. O livro é o resultado dessas entrevistas e de um trabalho extenso de pesquisa ao longo de dois anos.
No livro, Campbell visita os bastidores da infância e adolescência de Flordelis e revela passagens perturbadoras. O sequestro de bebês de mães vulneráveis, os abusos sexuais cometidos contra os “filhos”, as orgias disfarçadas de sessões de purificação, o acesso limitado à comida imposto no lar adotivo, a alcunha de ‘Queturiene’ que usava durante os rituais e o plano para matar o cônjuge são alguns dos episódios retratados.
Trecho do livro
“Todas as crianças e adolescentes resgatados chegavam a Flordelis imundos e exalando um mau cheiro insuportável. Tinham sujeiras escuras acumuladas atrás da orelha, nas dobras do pescoço, debaixo das unhas e nas axilas, além de lêndeas, piolhos e carrapatos. […] Como se fosse um ritual, Flordelis dava pessoalmente um banho pesado nos novos hóspedes, numa espécie de batismo. Ela também tirava a roupa nesse banho de boas-vindas e acabava – supostamente – transando com os “filhos” que achava interessantes. Os escolhidos tinham pequenos privilégios, como escolher o canal da TV sintonizada na sala e dormir em sua cama de casal”.
Adoradora de Baphomet
Filha da “bruxa” Carmozina e sobrinha de “pai” Miquelino, Flordelis aprendeu cedo a ocultar as entidades satânicas que adorava sob a bússola moral das crenças evangélicas. As pregações da palavra de Deus nos altares das igrejas eram seguidas por cerimônias particulares realizadas como oferendas para seres antagonistas da fé cristã como Baphomet.
Se publicamente defendia os laços sagrados do casamento, na intimidade Flordelis não tinha problemas em frequentar ambientes voltados para a troca de casais, realizar batismos sexuais e transar com a própria prole, além de incentivar o incesto entre irmãos, biológicos ou adotivos. Ela mesma era casada com o ex-namorado de uma das filhas. O marido, pastor Anderson do Carmo, foi vítima de um complô familiar que culminou com seu assassinato, a mando da esposa, em 2019.
Perfil frio e diabólico
“Flordelis, a Pastora do Diabo” escancara o perfil psicológico dissimulado, frio e diabólico da mulher que durante anos foi considerada símbolo de amor, afeto e generosidade. A obra, rica em detalhes sórdidos, aprofunda a história da assassina que mesmo diante da leitura da condenação a 50 anos e 28 dias de prisão lutou para manter intacta uma reputação há muito destruída pela própria ganância e falta de escrúpulos (Com LC – Agência de Comunicação).
Sobre o autor: o jornalista Ullisses Campbell nasceu em Belém do Pará, onde atuou nos jornais “A Província do Pará” e “O Liberal”, depois na “Folha de São Paulo”, “Correio Braziliense”, revistas “Superinteressante”, “Veja” e “Época”. Em 25 anos de profissão ganhou três prêmios Esso de Reportagem e um Embratel de Jornalismo. É autor da trilogia Mulheres Assassinas, que inclui os livros “Suzane – Assassina e manipuladora”, “Elize Matsunaga – A mulher que esquartejou o marido”.