Novo ministério criado pelo governo Lula e entregue ao comando do deputado pernambucano André de Paula entra em ebulição a partir de denúncias do oceanógrafo Carlos Eduardo Vilaça, o Cadu, o mesmo que suspendeu as licenças para pesca de pargo no Pará, causando enorme prejuízo ao setor/Fotos: Divulgação.

O oceanógrafo Carlos Eduardo Villaça, o Cadu, tenta resgatar o protagonismo que um dia teve o Conepe para manter o poder de influência no ministério criado pelo novo governo.

A pesca nacional volta a ganhar identidade ministerial com a posse do deputado federal André de Paula (PSD-PE) preconizando apoio ao desenvolvimento da pesca artesanal, da aquicultura e da pesca industrial, pregando equilíbrio entre produção de alimentos saudáveis, geração de renda e trabalho, participação e justiça socioambiental. Só não se sabe inda com que pernas orçamentárias o recriado Ministério da Pesca vai atuar, mas é voz corrente que a reconquista do status chega em momento de grande ebulição nos bastidores do setor.

“Operação Enredados”

No cenário vivo da discórdia entre poderosos, o oceanógrafo paulista Carlos Eduardo Villaça, o Cadu, que chegou a ocupar, no governo Bolsonaro, o posto de diretor do Departamento de Ordenamento e Desenvolvimento da Pesca (Mapa-Sap), tenta resgatar o protagonismo que um dia teve o Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe) para manter o poder de influência no ministério.

O que se diz é que a entidade hoje comandada por Cadu esteve envolvida até os cabelos na operação “Enredados”, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que desbaratou portentoso esquema nacional de negociação de permissões de pesca e outros ilícitos. Por isso, o Conepe teria sido esvaziado como entidade representativa dos sindicatos e empresas da pesca brasileira, sua finalidade original.

Prejuízos no Pará

Segundo gerente de megaindústria instalada em Fortaleza, Ceará, “Cadu acabou sacado do governo Bolsonaro porque teria chantageado armadores do Nordeste, usando prints das telas de rastreabilidade de suas embarcações para obter vantagens pouco republicanas”.

A denúncia nunca foi devidamente investigada, mas uma coisa é certa: foi de Cadu, em 2021, então diretor do Departamento de Ordenamento e Desenvolvimento da Pesca de Bolsonaro, a canetada que suspendeu todas as permissões para pesca do pargo no Pará sete dias antes da “largada” da temporada, causando enorme rebuliço e prejuízos na cidade de Bragança e outros municípios, que dependem da atividade.

Lista da discórdia

Eis que o Conepe, agora, sob as rédeas de Cadu, fez circular, na última quarta-feira, publicação que provocou ainda mais a fúria das lideranças nacionais da indústria e dos armadores de pesca. Aponta, um a um, nomes e dados atualizados das embarcações com suspensões de autorizações para pescar, “principalmente por falha de funcionamento do rastreamento por satélite ou não entrega de Mapas de Bordo”.

“Crime repugnante”

“Seguramente” – diz um armador do sudeste do País em grupo de WhatsApp – (Cadu) “comete um crime repugnante ao expor informações confidenciais compiladas durante o período em que serviu ao governo Bolsonaro”.

Incrédulo, mas, “vacinado”, o ministro André de Paula deve estar se perguntando: “Onde fui me meter?”