Quem pensa que já viu de tudo nestas eleições no Pará pode estar redondamente enganado. Depois de veículos de empresa estatal transportando bandeiras; tentativa de usurpação de direitos indígenas; mãe acusando primo de governador de invasão de horta eleitoral; prefeitos obrigados a declarar voto e a apoiar candidato; governador se divertindo e prefeito saltitante cantando o hit “Passar o sal” em candidato a presidente da República; e policiais militar e bombeiros aquartelados para não exercerem o direito constitucional do voto, eis que a Prefeitura de Belém, a praticamente 48 horas das eleições, aparece com uma novidade sem precedentes na história da República.
Leia amanhã:
O silêncio da vice-governadora
e o descompasso entre política e
realidade; o conto da democracia e a pressão
Memorando força barnabé
a trabalhar no feriado em
plena Praça da República
A diretora Administrativa da Secretaria de Educação, que vem a ser a própria secretária de Educação, Laurimar Farias, expeliu memorando tratando, entre outras coisas importantes, da transferência da data comemorativa do Dia do Servidor Público, que ocorre hoje, para 14 de novembro. Nada estranho, não fosse a noção de que, no fundo, no fundo, trata-se de uma estratégia para manter o barnabé em Belém e evitar a abstenção de votos que fatalmente ocorreria em feriado prolongado. O detalhe é que o memorando estabelece que o expediente dos servidores ocorrerá na Praça da República, das 8 horas às 14 horas, com registro de ponto a céu aberto. Qualquer semelhança com mergulho da gestão Ed 50 – como faz o governador Helder Barbalho, aliás – nas águas profundas da eleição do candidato Lula não será mera coincidência.
Plenos poderes
Neste caso, porém, a responsabilidade é apenas do alcaide e salta aos olhos porque nem o prefeito e nem a secretária de Educação transferiram o local de trabalho. Se a diretora Administrativo da Secretaria possui poderes para tanto, haja poder. Além de que não se viu nesta administração a Secretaria incrementar aulas nas praças de Belém para colocar os alunos perto da natureza e de espaços públicos. Causam estranheza também os termos do memorando, porque em anos anteriores essa alegre e espontânea transferência de trabalho para a praça não ocorreu para se comemorar com tanta felicidade o Dia do Servidor Público.
Com os próprios olhos
A 48 horas da eleição – a coluna repete para não ser mal interpretada -, pode-se estar diante de uma manobra eleitoral ou eleitoreira, mas a palavra final cabe ao Ministério Público Eleitoral, que bem poderia dar uma passadinha na Praça da República levando a tiracolo promotores de Justiça do MP Estadual. Quem sabe ouviriam dos próprios servidores quanta felicidade participar de uma festa adiada para o dia 14 de novembro, mas, por livre e espontânea pressão, ‘comemorada hoje’.