Dois arcebispos, oito bispos e um administrador apostólico que integram a CNBB Norte 2 – com jurisdição sobre o Pará e o Amapá – têm encontro marcado a partir do próximo dia 27 e durante uma semana no Vaticano. Estarão frente a frente com o Papa Francisco, que os convocou para visita ad limina, assim chamada no bom latim. Em tese, teologicamente, a visita ad limina expressa a comunhão entre a Igreja e as dioceses, mas, nesse caso, a “comunhão” pode ser indigesta.
Colaboradores da coluna posicionados na Nunciatura Apostólica, em Brasília, e no Vaticano informam que, mesmo com o peculiar carisma do Papa, que deve servir o tradicional cafezinho brasileiro prelados, o encontro não será tão leve como outros do passado recente.
Desta vez, ao abrir sua pasta preta, Francisco deverá mostrar prints e muitas mensagens que entupiram as redes sociais do Vaticano partidas do Pará, e que têm tirado o sossego do Papa argentino. Foram essas informações que levaram o Santo Padre à fulminante decisão de interferir na Diocese de Bragança, isto é, um procedimento que costuma levar até oito meses a Igreja reduziu para 15 dias.
Sucessão de problemas
O Papa deve abordar fortemente o evidente enfraquecimento da fidelização à Igreja Católica no Pará, mesmo após suas decisões recentes de criar mais prelazias, dioceses e arcebispados na região. Vai analisar que os católicos do Estado estão ressabiados com a sucessão de problemas, alguns graves, por envolver corrupção com o sofrido dízimo do povo, além de suspeitas de desvio nos costumes, o que também têm abalado o moral e a missão dos missionários.
Enfim, mais do que as tradicionais fotos no Palácio Apostólico e os agradáveis passeios por Roma, os piedosos bispos devem esperar momentos tensos, como também peculiares a argentinos zangados.
Crise na Diocese de
Bragança continua sem solução,
mesmo com nomeação de novo bispo
Cinquenta dias depois de nomeado em tempo recorde pelo Papa Francisco, o bispo auxiliar da Diocese de Bragança, com direito à sucessão, Dom Possidônio da Mata ainda não disse a que veio, isto é, não tomou nenhuma providência com relação às denúncias envolvendo a gestão do Hospital Santo Antônio Maria Zacaria, entregue há mais de 30 anos à Irmã Estelina de Oliveira.
O resultado imediato é a crise que se instalou na unidade de saúde, onde funcionários só recebem salários mediante denúncia, mas, ainda assim, não escapam de ameaças e de assédio moral. Um médico que denunciou a direção do hospital passou a ser ameaçado e se viu obrigado a procurar a Polícia. Em toda a região bragantina corre um sentimento de impotência entre servidores do hospital, pacientes e a própria população do município porque não há providências da diocese, da Secretaria de Saúde do Estado ou do Ministério Público.
E as denúncias não param. Apontam Irmã Estelina de Oliveira com grande poder político e econômico e seus supostos protegidos se beneficiando “do dinheiro do santo”. Irmã Estelina é acusada de adquirir bens imóveis por cifras milionárias em Bragança, Irituia, Tracuateua, Salinópolis e até em Portugal, ao passo em que seus protegidos seguem na mesma batida, com carros de luxo, sítios e casas de praia considerados incompatíveis com a capacidade de compra.
Nesse cenário desesperador aos olhos da população e dos fiéis católicos de Bragança falta a autoridade de pelo menos um dos três bispos da diocese – e Dom Possidônio da Mata, nomeado às pressas pelo Papa Francisco, ainda não tocou na ferida. A Igreja sangra.