Por Renato Conduru | Colaborador
Quando o presidente Lula fala que os juros têm de baixar, o mercado reage mal, mas tem consciência de que estão muito altos e causam estagnação na economia; quando Lula fala em abrasileirar a política de preços da Petrobrás, o mercado reage mal, mas aceitou o governo Bolsonaro reduzir impostos, o que comprometeu os orçamentos estaduais e municipais em R$115 bilhões, prejudicou os orçamentos da educação e da saúde e serviços públicos essenciais, ampliando ainda mais as graves carências sociais brasileiras.
Todo mundo sabe que o lucro é o resultado da diferença entre receitas e despesas. E que receitas são o resultado da multiplicação de preço x quantidade vendida. Pois bem: ano passado, a Petrobras teve lucro líquido – descontadas todas as despesas – de R$188,3 bilhões. Convenhamos, é uma cifra astronômica, que paga mais de duas vezes e meia o programa do Bolsa Família, que custa R$70 bilhões ao ano.
O lucro da Petrobras é, portanto, algo que destoa em relação às carências sociais brasileiras. É resultante da multiplicação preço x quantidade, menos as despesas totais da companhia. Segundo o relatório da petrolífera, as vendas totais de petróleo e gás em 2022 somaram 3,03 milhões de barris-dia, com queda de 0,3% em relação a 2021. Bem, se a quantidade diminuiu, obviamente os preços contribuíram para que o lucro tivesse aumento de 77% em relação a 2021.
Lembrando que no meio de ano, o governo Bolsonaro baixou os preços do petróleo e gás, retirando impostos e mantendo a política de paridade internacional dos preços praticados pela Petrobras. Diante desses números, é possível concluir que a política de preços – paridade aos preços internacionais – praticada pela Petrobras tem espaços para se buscar uma política mais identificada com o mercado nacional e mais condizente com cenário econômico, preços abrasileirados, como diz Lula.
Outra preocupação do governo são os investimentos da Petrobras, considerados aquém do necessário pelo governo. Em 2022, a companhia investiu apenas cerca de R$48 bilhões – US$8,956 bilhões -, aumento de 2,1% em comparação aos investimentos de 2021. Lucro de R$188 bilhões versus R$48 bilhões de investimentos. O lucro foi distribuído como dividendos entre os acionistas da companhia, ou seja, os acionistas tiveram ganho de 77% em relação a 2021 e o País, 2,1% em relação a 2021 que, descontada a inflação, resulta em ganho real negativo.
Ganhos bem desproporcionais, mas que o mercado acha normal, e nós, simples mortais, achamos anormal.