O Projeto Abrace o Marajó, que ajudou a alavancar a imagem da ex-ministra Damares Alves, eleita senadora por Brasília, volta à mesa de discussão, agora com políticos de esquerda, Igreja Católica e lideranças marajoaras como quilombolas, indígenas, ribeirinhos e pescadores. Ontem, na sede da CNBB, em Belém, houve debate para tratar de assuntos considerados importantes para a região, com a presença da pesquisadora do Museu Goeldi, Ima Vieira, encarregada de levar os resultados do encontro para a equipe de transição do governo Lula, mas talvez isso não seja possível: a reunião resultou praticamente estéril e serviu mais para a esquerda demonizar a figura da ex-ministra.
Plano de 16 anos
Em 2006, o então governo Lula produziu relatório de 600 páginas sobre as demandas do Arquipélago do Marajó. Considerado à época ‘bem elaborado’, o documento apontava os principais gargalos no desenvolvimento da região, levando em consideração sua condição de área de preservação ambiental, com propostas de perenização do Lago Arari, energia elétrica para todos os municípios, internet firme, investimento em turismo e exploração florestal de forma sustentável, a maioria delas não executada, nem durante os governos do PT, nem no atual.
Legalização de terras
Dezesseis anos depois, incluindo dois de pandemia, tempo em que a população saltou de 400 mil para mais de 600 mil habitantes, a pauta de discussão de representantes de esquerda é praticamente a mesma, exceto pelo fato de que agora se fala em um tema extremamente delicado para muitos proprietários e fazendeiros da região, a legalização de terras. No curso da reunião que não aconteceu ontem, na CNBB, a pesquisadora Ima Vieira quase não se manifestou e, até a reunião de hoje, prevista para Soure, com os mesmos personagens, inclusive um dos bispos do Marajó, ainda não tem nada factível para apresentar à equipe de transição do novo governo, da qual faz parte.
Damares ‘fritada’
A ex-ministra Damares Alves foi a peça de resistência do encontro, provocando náuseas em uns à simples menção do seu nome e furor em outros, principalmente quando o tema enveredou para a questão da violência que vitima crianças na região.
De bom para melhor
Para se ter ideia, entre os debatedores há inclusive quem rejeite a informação de que o IDH do Marajó continua entre os mais baixos do País, alegando que – acredite -, o boom da produção de açaí mudou o quadro, tornando a vida dos extrativistas um ‘manancial lucrativo’, onde os compradores batem na porta da casa dos produtores comprando paneiros abarrotados do fruto a preços altos. E mais: tudo vai melhorar com o pagamento dos royalties do petróleo a ser explorado na Costa Atlântica.
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