Tite vai confiante para sua segunda Copa, com Neymar em bom momento e apesar da desconvocação de Philippe Coutinho. O treinador justifica a convocação do veterano Dani Alves. Desde que foi penta, o Brasil teve um modesto quarto lugar como melhor colocação/Fotos: Divulgação.

Por Olavo Dutra e Pedro Paulo Blanco

A uma semana do início da Copa do Mundo do Catar, Brasil figura entre os favoritos, ao lado de outras seleções europeias, cujo domínio no principal torneio esportivo do planeta já dura 20 anos.

Desde que o Brasil conquistou a Copa do Mundo disputada no Japão e na Coreia do Sul, em 2002, os europeus fracionaram o torneio entre si, abocanhando todas as quatro edições posteriores do evento. Itália, Espanha, Alemanha e França ergueram o troféu nas Copas da Alemanha, África do Sul, Brasil e Rússia. Nesse intervalo, a melhor colocação brasileira foi um modesto quarto lugar na copa disputada em casa, depois de uma derrota arrasadora para a Holanda, que ficou com a terceira colocação.

Esse retrospecto é importante porque está entre os principais conceitos trabalhados pelo técnico Tite para motivar o time que estreia no dia 24 deste mês, contra a Sérvia, no Lusail Stadium. O treinador permaneceu no cargo depois do fracasso em 2018, quando o Brasil saiu para a Bélgica, e a própria superação pessoal de Tite é motivação para o grupo, que afirma “estar fechado” com o técnico, como se fala em bom futebolês.

Para chegar ao elenco que disputará o torneio, Tite assistiu a muitos jogos – inclusive de outras seleções -, experimentou diferentes formações e deixou claro que, ao contrário de 2018, já não é tão influenciado por pressões externas, até porque a Seleção de quatro anos atrás estava carimbada pelo 7×1 da Alemanha, vexame que enterrou de vez o lendário goleiro Manga, da Seleção derrotada pelo Uruguai – também dentro de casa) – em 1950, e, até então, detentor da maior vergonha brasileira em mundiais.

 “Acredito que o grupo esteja mais preparado que em 2018, mas essa é uma comparação que precisa ser evitada. Aquele era um ciclo de recuperação. Hoje, é um ciclo inteiro de quatro anos. Comparar isso é como comparar gerações. Agora estamos muito mais tranquilos, em paz, confiantes. Não estou dizendo que vamos ganhar, mas chegamos mais fortes e estruturados”, define Tite.

No mais, Tite – assim como grande parte da imprensa esportiva – apostam mesmo é no momento vivido pelo time para quebrar a hegemonia europeia no maior torneio esportivo do mundo. E isso cabe ao Brasil mesmo, já que não há qualquer seleção que crie a mesma expectativa fora do território europeu, além da ‘Canarinho’. O time já está em Turim, na Itália, onde treinará até o próximo sábado, dia 19, no CT da Juventus. Depois disso, a Seleção embarca para o Catar.

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O dono da bola

A caminho da terceira Copa do Mundo, o atacante Neymar, do PSG, França (foto) afirma que esta é a melhor formação da qual ele já fez parte em mundiais. O jogador também afirmou, durante entrevista concedida a um canal do Youtube, que ele próprio vive o melhor momento da carreira. Os números neste início da temporada europeia mostram isso. Foram 15 gols e 11 assistências em 19 jogos. “Eu acho que essa Seleção está mais preparada do que as outras para ganhar, pelos jogadores, pelo time, pelo nosso técnico, óbvio, por termos nos preparado muito bem para isso”.

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‘Senhor meia idade’

Protagonista da maior polêmica entre as convocações, o lateral Daniel Alves, Pumas, México (foto) chega ao mundial no auge dos 39 anos de idade e torna-se o jogador brasileiro mais velho a disputar uma Copa do Mundo. O nome chegou como surpresa não somente pela idade, mas, principalmente, por ter ficado de fora da convocação para os dois amistosos que encerrarem o ciclo de preparação da Seleção Brasileira. Dani Alves foi prudente ao falar sobre as críticas que recebeu. “”Infelizmente, não estamos aqui para agradar todo mundo, nem é o meu objetivo, mas estamos aqui para não falhar com aqueles que confiam na nossa entrega, na nossa dedicação, no amor que sentimos por esse esporte, por vestir essa camisa”. O técnico Tite, durante a última coletiva antes do embarque para Turim, também falou sobre a convocação do lateral. “Um acréscimo na parte técnica e tática. A qualidade técnica e individual que o Dani Alves empresta neste quesito de criação é impressionante, para ser um organizador, um articulador. Não temos nele um jogador de 60, 70 metros de ida e volta. Esta é a função dele, fora outras virtudes”.

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Craque desconvocado

O único desfalque entre os atletas que vinham participando da formação brasileira durante as eliminatórias sul-americanas e os amistosos foi do meia Philippe Coutinho, Aston Villa, Inglaterra (foto), cortado da lista depois de sofrer uma lesão na coxa direita durante um treino do time inglês. Destaque do Brasil no Mundial de 2018, na Rússia, Coutinho ficou longe da Seleção por mais de um ano por conta de uma cirurgia no joelho, mas retornou em 2021. Apesar do problema, ele disputou 27 partidas com a amarelinha nesse ciclo de Copa – a última foi contra a Coreia do Sul, em junho deste ano, quando fez um gol de pênalti. Na era Tite, iniciada em 2016, Coutinho disputou 51 partidas, sendo o quarto atleta mais utilizado – atrás apenas de Marquinhos, Gabriel Jesus e Casemiro.

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Dezesseis estreantes

Também chama a atenção na lista de convocados o poder de renovação do elenco. Dos 26 atletas escolhidos por Tite, 16 irão disputar pela primeira vez uma Copa do Mundo. Alguns deles, como o meia Éverton Ribeiro, Flamengo, Brasil (foto), já com 32 anos de idade e muito futebol jogado na vida. Outros, como o atacante Martinelli, Arsenal, Inglaterra, contrariando a opinião de quem preferiria o atacante Gabriel Barbosa, o Gabigol, do Flamengo, entre os selecionados. Tite procurou não valorizar a pergunta quando o repórter levantou, durante a coletiva de imprensa, este assunto. “Experiência conta, assim como conta o momento, como conta a capacidade de concentração do atleta. Uma série de fatores são levados em consideração. A carreira toda, o nível que se mantém. A experiência, em si, é sempre muito revitalizada”.

O que esperar do Catar

Nunca uma escolha de sede para a Copa do Mundo foi tão criticada. O país nega todas as denúncias de compra de votos para ser eleito pela Fifa, a Federação internacional de Futebol, como escolhido para receber o mundial, mas se contradiz ao insistir em uma política que contraria os direitos humanos e que segue reprimindo atitudes vistas como transparentes em várias outras nações.

A imprensa internacional, por exemplo, será proibida de filmar ou realizar entrevistas fora da área de influência do mundial. No país, mulheres precisam de autorização para estudar ou trabalhar na maioria dos casos e o comportamento LGBTQ+ é considerado crime. Entidades de defesa dos Direitos Humanos também denunciam a morte de mais de 6,5 mil trabalhadores estrangeiros durante o horário de trabalho desde que a estrutura para a Copa do Mundo começou a ser montada. O país afirma que os números “estão dentro da média para a população país”.

O que o Catar quer mesmo com o Mundial é melhorar a imagem internacional e se abrir aos negócios estrangeiros. O Estádio Ras Abu Aboud, também conhecido como Estádio 974, onde o Brasil enfrentará a Suíça no dia 28, por exemplo, foi levantado com a estrutura toda em aço e tubos, além de 974 -por isso o apelido) – contêineres. Localizado a 7 km de Doha, ele tem capacidade para 40 mil espectadores e é resultado de uma política adotada pelo Comitê Organizador da Copa no Qatar de evitar ao máximo a formação dos chamados “elefantes brancos”, megaestruturas que perdem a serventia e ficam subutilizados após a realização do evento. No Catar, o Brasil fará a concentração e os treinos em Doha, no Estádio Grand Hamad e no Westin Doha Hotel e Spa. Além de Sérvia e Suíça a Seleção Brasileira também terá o time de Camarões pelo caminho nessa primeira fase. Caso passe, o país enfrentar um dos dois primeiros colocados do grupo H nas oitavas de final, que inclui Portugal, Uruguai, Gana e Coreia do Sul.