Delegado federal feito secretário do governo do Estado prefere o silêncio a falar sobre tema que deve dominar. Escolha, em vez de ser uma retaliação à coluna, sinaliza desrespeito aos leitores e à população.
Por Olavo Dutra
O delegado federal Ualame Machado, secretário de Segurança Pública do Pará, deve ter problemas com a coluna – e talvez por isso sempre reage negativamente a informações aqui veiculadas. Supostamente por conta disso – não deu explicação, nem justificativa formal -, se recusa a responder a perguntas sobre tema que deve dominar: segurança pública.
Convém lembrar que, como agente público, antes de ser delegado de carreira da Polícia Federal, o secretário deveria prestar contas do seu trabalho no cargo, mas, ao contrário, opta pelo silêncio, em vez da entrevista, facilitada por perguntas que, se quisesse, poderia responder remotamente.
Ualame Machado mantém processo na Justiça do Pará contra a coluna e o redator por se considerar vítima de ‘calúnia e difamação’.
Os fatos como eles são
Explica-se: em uma das edições da coluna, o delegado foi apontado como suposto ‘Agente x-9’ do governo do Estado, pecha cuja autoria ele atribui ao redator. Em outra ocasião, o delegado federal, no exercício do cargo de secretário de Segurança Pública do Pará, aparece em foto na qual o foco era um policial militar preso pela Polícia de Portugal acusado de tráfico de drogas, e não ele. Antes da coluna, a imagem circulou nas redes sociais.
Os comentários que o apontam como suposto ‘X-9’ são suposições não formuladas pela coluna ou pelo redator, mas por observadores da cena política e administrativas no Pará por ocasião de operações da Polícia Federal envolvendo supostos desvios de verbas federais na saúde pública durante a pandemia e o sumiço de telefones celulares do governador que as antecederam, sem elucidação ou explicação da Polícia Civil até hoje.
Complica, mas não explica
Essa leitura, de fato, pode parecer complicada até em juízo, só que nem tanto. Agentes públicos não devem se colocar acima do bem e do mal, nem se ater a filigranas sejam quais forem para, em vez de explicar, complicar, tentando desqualificar o senso comum e comentários de domínio público como forma de se sobrepor ao direito de informar. Ao se negar a responder às perguntas formuladas pela coluna, o secretário Ualame Machado apenas confirma essa postura e coloca uma pedra sobre a obrigação de esclarecer.
No mais, como cabe à Justiça separar o joio do trigo, convém esperar, mas, uma coisa é certa: o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Pará se recusa a responder a 12 perguntas da coluna. Veja abaixo:
Doze perguntas sem respostas
(Enviadas por e-mail)
ter., 31 de jan. 10:01
Olavo Dutra <dutra54@gmail.com>
para segup.ascom@gmail.com
Bom dia, secretário. Grato por nos receber.
- 1. O Pará possui mais de 400 empresas operando ilegalmente na extração de minérios. Cocaína se esconde em qualquer lugar, mas minérios são transportados em carretas. Qual a política de segurança pública para o tráfico mineral?
- 2. O Comando Vermelho tem avançado sobre bancas de jogo e apostas tradicionais e eletrônicas. Os ‘bicheiros’ sempre dominaram esse mercado ilegal, mas não produziam tanta violência. Agora – é a voz das ruas -, quem manda é o CV. Qual a conduta da Polícia ante essas denúncias?
- 3. Especificamente, o que o senhor tem a dizer sobre a propalada cobrança e pagamento de ‘taxas de proteção’, danos a serviços de internet denunciados pela chamada grande imprensa, extorsão de comerciantes e lojistas?
- 4. Qual a influência do CV hoje, dentro da cúpula da Polícia Civil e da Seap, se é que existe?
- 5. Qual a resposta da Segup sobre as reportagens da imprensa – veiculadas pelo próprio Dol, da família do governador – dando conta de que vários bairros da Grande Belém estão sob o domínio de facções, principalmente o Comando Vermelho?
- 6. Como o senhor explica até hoje a Polícia do Pará não ter conseguido prender o líder do Comando Vermelho, Leonardo Araújo “L 41”, ou nenhuma outra liderança de peso da organização?
- 7. Como a população deve entender o vazamento de conversa telefônica entre um coronel chefe de Operações da Seap e o líder do Comando Vermelho no Pará?
- 8. Qual relação entre ocorrência de Mortes Violentas Intencionais – homicídio doloso + latrocino + lesão corporal seguida de morte + intervenção policial -, a apuração e a identificação de autoria por inquérito policial?
- 9. Qual o número de mortes violentas com indícios de crime não computados nas estatísticas do sistema de Segurança pública do Pará?
- 10. Os números da criminalidade relativos a mortes violentas no Pará contemplam apenas as ocorrências do banco da Polícia Civil ou o Pará faz o cruzamento entre os registros de seu banco de dados com as mortes violentas intencionais do sistema do Ministério da Saúde?
- 11. Em caso positivo de cruzamento entre esses sistemas, qual a diferença numérica entre os registros de mortes violentas intencionais dos dois bancos de dados?
- 12. Como o senhor analisa o massacre de 56 presos no Presídio de Altamira, em 2019, episódio que ficou marcado como a maior chacina carcerária do Pará e a maior do Brasil por densidade carcerária – número de presos x população carcerária?