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Cheiro de fumaça

Lobistas do petróleo disparam e acendem alerta na Conferência da ONU, em Belém

Edição anterior, no Azerbaijão, teve mais representantes da indústria fóssil do que a soma dos dez países mais vulneráveis à crise climática.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 18/10/2025, 11:00
Lobistas do petróleo disparam e acendem alerta na Conferência da ONU, em Belém
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COP30 ainda nem começou, mas já há fumaça no ar - e não é da queimada amazônica; é de petróleo. A expansão vertiginosa da presença de lobistas do setor nas duas últimas conferências da ONU acendeu um alerta entre ambientalistas e representantes da sociedade civil que estarão em Belém. A COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, teve mais credenciados do setor de combustíveis fósseis do que a soma das delegações dos dez países mais vulneráveis aos extremos climáticos.

Em Brasília, ministra Marina Silva subiu o tom contra os subsídios aos combustíveis fósseis, estimados entre US$ 1,5 trilhão e US$ 7 trilhões/Fotos: Divulgação.
O receio é que a desproporção contamine o debate sobre transição energética, empurrando os pobres e os ilhados - de mar ou de política - para fora da roda. E não é paranoia: parte desse desequilíbrio já deu as caras na Pré-COP, em Brasília, semana passada.

Fóssil, mas firme

Na ocasião, a ministra Marina Silva subiu o tom contra os subsídios aos combustíveis fósseis, estimados entre US$ 1,5 trilhão e US$ 7 trilhões -, enquanto o investimento global em energia limpa mal chega a US$ 500 bilhões. “Pela primeira vez, o mundo adotou decisão que trata explicitamente da transição justa, ordenada e equitativa para o abandono dos fósseis”, disse Marina, com a convicção de quem sabe que está pisando em solo escorregadio.

Logo depois, os sauditas reagiram: disseram que transição energética não é sinônimo de cortar petróleo. Índia, China, Bolívia e parte do bloco árabe engrossaram o coro. Tudo junto e misturado: interesses, barris e bilhões.

Lobby não dorme

Relatório da coalizão Kick the Big Polluters Out mostrou que 1,7 mil pessoas ligadas aos interesses do carvão, petróleo e gás participaram da COP29. Um número maior que o das dez nações mais vulneráveis ao clima, somadas. Em 2023, na COP28 de Dubai, o recorde foi ainda mais escandaloso: 2.450 lobistas fósseis - quase uma conferência paralela.

Entre eles, nomes de peso: Chevron, ExxonMobil, Shell, BP, além de associações industriais como a International Emissions Trading Association, que levou 43 representantes. O Japão enviou lobistas da Sumitomo, o Canadá e o Reino Unido mandaram os seus da Suncor e Tourmaline. Um verdadeiro OPEP Club, agora rebatizado de “sala azul da ONU”.

Vitrine e pressões

Belém, anfitriã da COP30, herda o desafio de lidar com esse mar de dinheiro e influência. As novas diretrizes da ONU preveem que todo participante não vinculado a delegação oficial pode divulgar quem financia sua presença. Mas “pode” não é “deve”. E quando a transparência é opcional, o lobby dorme tranquilo.

“Quem não está ligado a um governo vai à COP para fazer lobby - empresarial ou de causas. Isso pode servir ao bem ou ao mal”, diz André Castro, do Instituto LaClima. Ele pondera que o diálogo com o setor fóssil é necessário, mas o risco de desequilíbrio é evidente.

Sara Ribeiro, da Arayara, vai mais longe: “O capital desses atores é gigantesco em comparação aos esforços da sociedade civil. A transição para longe dos fósseis foi ignorada nas últimas COPs - e Belém pode repetir o enredo.”

Pressão verde-amarela

Mais de 260 organizações internacionais já pediram que o Brasil estabeleça mecanismos de transparência e regras contra a influência indevida nas negociações. “A liderança brasileira tem a oportunidade de restabelecer o curso da diplomacia climática”, diz a carta aberta enviada ao Itamaraty.

O Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, respondeu com uma nota escovada: a transparência “é um princípio central” e haverá chamada pública para credenciamento da sociedade civil. Na prática, o acesso à chamada Zona Azul da UNFCCC - onde as decisões acontecem - será controlado, mas “diverso”. Tradução livre: o governo promete abrir as portas, mas continua com a chave no bolso.

A COP30 promete ser o evento em que a Amazônia será a paisagem - e o petróleo, o protagonista.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.