Governador levou a melhor nas eleições deste ano ao neutralizar partidos, isto é, venceu as eleições mais pela engenharia política do que pela performance como governante. Votações dadas ao oponente Zequinha Marinho e ao candidato ao Senado desfazem a cortina de fumaça e põem pingos nos is/Fotos: Divulgação.

Por Olavo Dutra|Colaboradores

Houaiss ensina que a visão de paralaxe é o deslocamento aparente de um objeto quando se muda o ponto de observação. Entender esse processo ótico ajuda, por vezes, a olhar de outro ponto de vista as realidades aparentes da forma como se apresentam. Exemplo: é curioso como o resultado numérico de uma eleição cria uma cortina de fumaça para os fatos e engana a inteligência média, dando ao “objeto” político uma aparência que mudará se você altera a posição do olhar sobre ele.

Os arraiais políticos e mesmo parte dos profissionais de imprensa no Pará olham para o resultado das urnas e dizem: “Helder ganhou tudo. Venceu no primeiro turno, elegeu o senador e fez a maior bancada”. Há divergências. A verdade é que um analista arguto e sem paixões se deslocaria para olhar tudo um pouco mais de perto e por outro viés.

Parece, mas não é

O candidato Zequinha Marinho, que aparecia minúsculo nas pesquisas, teve quase um terço dos votos, mostrando que existe sim uma oposição ativa a Helder e ao seu projeto político. Foi a neutralização de partidos como PT, Psol, PSB e PTB – que poderiam ter lançado candidatos próprios – que garantiu a reeleição de Helder, e não a performance dele como governante. Foi engenharia política, e não performance.

Falsa expressão

Por outro lado, é falso dizer que a eleição ao Senado foi uma vitória expressiva. O Pará tem 6 milhões de eleitores, mas apenas pouco mais de 1,5 milhão votaram no candidato do governador. Ou seja, 4,5 milhões de eleitores não seguiram o comando da família Barbalho. Novamente, Helder venceu pela engenharia política e isso remete a outra observação do cenário desde os traços iniciais do desenho a campanha no Pará.

A neutralização da candidatura da ex-secretária de Cultura Ursula Vidal, por exemplo, foi o xeque-mate decisivo para que Beto (da Fetagri) Faro despontasse como o mais votado quando as urnas foram abertas. Qualquer outra candidatura que fosse associada a Lula teria tirado do PT e do governador Helder Barbalho essa decantada vitória.

Rédeas de controle

A grande bancada do MDB também esconde uma derrota silenciosa de Helder. Dos eleitos, o governador pode contar apenas com a mãe, dona Elcione, para seguir o seu comando. Todos os demais têm donos e patrocinadores, que cobrarão caro a derrama de dinheiro que induziu ao resultado final. Alessandra Haber é politicamente fiel ao marido, o prefeito Daniel Santos, de Ananindeua;  Keniston Braga obteve a vitória graças ao prefeito de Parauapebas, Darci Lermen; Andrea Siqueira responde pelos interesses do marido, Alexandre Siqueira, prefeito de Tucuruí; Renilce Nicodemos deve muito da sua eleição ao minerador e milionário Chamonzinho, ele próprio o mais votado para a Assembleia Legislativa; Henderson Maia deve obediência ao tio e mecenas, Lira Maia, um dos caciques mais longevos da política paraense; o parente José Priante, desafeto de Jader Filho, elege-se por conta própria conta e sequer tinha foto do governador em suas peças de propaganda.

Mesa de negociação

Ou seja, Helder não dará ordem à bancada do MDB. Terá que negociar a cada passo, a cada pedido, enfraquecendo-se nessa costura de acordos feitos no varejo.

Como se vê, na política nada é o que parece ser.

Papo Reto

Divulgação
  • Uma vez que em muitos bairros de Belém não há pingo d’água nas torneiras, bem que o presidente da Cosanpa, José Antônio De Angelis (foto), poderia colocar o pingo nos “is’ divulgando os metros de canalizações substituídos na rede de abastecimento sem praticamente resultado prático visível.
  • No calor da disputa eleitoral, o governo do Estado, através da Secretaria de Transporte, parece que esqueceu de pagar o contrato da empresa favorecida para a construção da Ponte de Outeiro.
  • Ontem, os trabalhadores cruzaram os braços e a Ilha de Caratateua ficou engessada grande parte do dia, por terra e pelos rios.
  • Dom Possidônio da Mata, o mais recente bispo nomeado pelo Papa Francisco para a Diocese de Bragança, será o celebrante da última missa da quadra nazarena, em Belém.
  • Dezenas, senão centenas de veículos estão sem licenciamento em Belém por contra de uma graciosa determinação da Secretaria Nacional de Trânsito.
  • Só podem ser licenciados depois de se submeterem a recall das concessionárias correspondentes que, em Belém, não dispõem de peças de reposição, senão 30 dias depois do pedido.
  • Mais: somente depois da chegada das peças os proprietários podem fazer o agendamento para substituição, o que demanda, no mínimo, mais 30 dias de espera.
  • Morador de Belém está ficando impossibilitado de andar nas calçadas da cidade, tamanha a destruição. Em alguns quarteirões o leito da rua virou passeio.
  • A briga está feia nas eleições do Paysandu. Abelardo Serra foi expurgado de uma das chapas por tentar meter bedelho no trabalho do treinador Márcio Fernandes.
  • Felipe Fernandes promete formar chapa independente, mas não tem lastro entre os sócios. Fred Peixoto, que é candidato a vice na chapa da situação, é filho de Gui Peixoto. Outro candidato a vice é Roger Aguilera.
  • Sérgio Solano é oposição, mas ainda não divulgou a composição de sua chapa. Fala-se que Alberto Maia, ex-presidente, pode apoiar essa chapa.
  • O atual presidente, Maurício Ettinger, tem uma proposta de aproximação com os demais candidatos, no entanto, é muito difícil que isso aconteça.