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Réu confesso

Paysandu joga por um fio, e torcedor vai junto e sofre; parece uma coisa...

Hoje, o Paysandu entra em campo para decidir o que resta de dignidade numa temporada que prometia mais e entregou quase nada.

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  • Por Olavo Dutra | Sem colaboradores
  • 31/10/2025, 18:32
Paysandu joga por um fio, e torcedor vai junto e sofre; parece uma coisa...

O maior clube do Norte - aquele que já fez o Brasil olhar para cima do mapa - chega a este jogo como quem busca oxigênio com os pulmões cansados. A torcida, calejada de promessas e ressacas, vai junto, na arquibancada e no coração.


O clima é de cartada final: daí pra pior. Vice-versa não existe. O torcedor sabe. Não é apenas mais uma rodada da Série C. É o divisor de águas entre o susto e o desastre, o fiapo de esperança e o precipício. No Norte, onde o futebol sempre foi mais paixão que recurso, o Papão carrega o peso simbólico de um território inteiro que insiste em existir no mapa do futebol brasileiro.


O fardo da camisa


Mal na tabela, mal nas atuações, mal em campo e fora dele, o Paysandu parece andar em círculos - tonto de si mesmo. Nenhum elenco sobrevive ileso quando a camisa pesa mais que as pernas. E a do Papão pesa toneladas: tem história, tem glória, tem o grito de uma multidão que ainda acredita que tudo pode mudar aos 45 do segundo tempo.


Mas, há um limite entre a fé e o autoengano. E talvez seja essa fronteira que o time cruza hoje. Não há mais espaço para discursos de “reconstrução”, “planejamento”, “projeto a longo prazo”. O torcedor cansou. O que resta é o jogo. E, se o jogo não vier, resta o desabafo - essa forma primitiva de sobrevivência emocional que todo bicolor entende.


Entre amor e ódio


Sou torcedor, e assino o ônus do texto. Dói escrever, mas mais dói ver o Papão sem alma, como se o uniforme fosse apenas figurino. O futebol, no fundo, é um espelho do país: improvisado, instável, apaixonado. A cada derrota, a gente promete não sofrer mais - e lá está de novo, torcendo, sofrendo, acreditando.  O “outro”, o vizinho, sobe, escalando posições, ganhando espaço e manchetes. A rivalidade pesa mais nas semanas ruins. O inferno do torcedor bicolor é ver “o outro” vencer quando o Paysandu tropeça – e não me tenham mal por isso. É apenas jogo de iguais momentaneamente desiguais, ora...


Cartada decisiva


Belém respira esse jogo desde cedo. Nos bares da Pedreira, nas esquinas da Augusto Montenegro, nos becos do Guamá. Cada conversa termina com o mesmo ponto de interrogação: “Será que vai dar?” E o silêncio que vem depois é resposta suficiente. Há quem ainda compre o ingresso, vista a camisa e siga para o estádio, mesmo sabendo que o coração já está cansado de promessas. O torcedor do Paysandu não precisa de motivação - precisa de respeito. Porque, quando o time se arrasta em campo, é a torcida que o empurra


Hoje é dia de cartada decisiva. Se o Paysandu vencer, não será redenção; será apenas respiro; se perder, não será tragédia; será rotina. Dolorida rotina…


Foto: Jorge Luis Totti/PSC

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.