“Se quisermos salvar vidas, precisamos, de uma vez por todas, tratar a segurança viária como política pública e investir em fiscalização, educação e em melhorias nas rodovias brasileiras”.
Dados da Polícia Rodoviária Federal apontam que 5.426 pessoas perderam a vida em ocorrências que poderiam ser evitadas em 2022. Outras 18.063 pessoas ficaram gravemente feridas em um total de 64.255 acidentes.
“Os números representam recuo de 0,19% no total de acidentes, o número de mortes subiu 0,61%, o que é considerado pela estatística como uma situação de estabilidade, mas não podemos esquecer que o número de mortos e feridos ainda é muito alto”, explica o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego, Alysson Coimbra.
O especialista avalia o resultado com preocupação. “Ainda estamos muito distantes de cumprir a meta estabelecida pela ONU de redução nas mortes no trânsito em 50% até 2030. O País assumiu esse compromisso na Década de Ação pela Segurança no Trânsito. “Se quisermos salvar vidas, precisamos, de uma vez por todas, tratar a segurança viária como política pública e investir em fiscalização, educação e em melhorias nas rodovias brasileiras”, observa.
Minas lidera ranking
Minas Gerais, Estado com a maior malha viária do País, segue liderando o ranking de mortes e sinistros de trânsito. No ano passado, 8.262 acidentes deixaram 699 mortos e 2.508 pessoas gravemente feridas nas rodovias federais mineiras. Na sequência vêm os estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente.
“Minas acumula graves problemas na sua malha viária e a falta de investimento na recuperação das rodovias vem aumentando, ano a ano, o número de vítimas. Não é à toa que o Estado tem 63,7% da malha rodoviária com problemas”, explica Alysson Coimbra, ao citar a Pesquisa CNT de Rodovias 2022. “O levantamento mostra que Minas tem 397 pontos críticos”, relata.
Sempre falha humana
De acordo com o levantamento da PRF, a principal causa de acidentes em 2022 continua sendo a falha humana: reação tardia ou ineficiente do condutor; falta de reação do condutor e acessar a via sem observar a presença de outros veículos são as causas mais comuns. “É indispensável fazer avaliações regulares na saúde física e mental dos motoristas. Por isso as entidades que atuam na segurança viária reforçam que a ampliação da validade da CNH, de 5 para 10 anos, causou um dano irreparável para a segurança no trânsito, e terá reflexos no aumento gradativo do número e da gravidade dos acidentes, atingindo também milhões de pessoas que não possuem CNH”, adverte o especialista.
Depois da falta de atenção, a imprudência é a maior causadora de acidentes: dirigir em velocidade incompatível com a via; não manter distância do carro da frente e dirigir sob o efeito de álcool completam o ranking das principais causas de sinistros, como o especialista faz questão de chamar. “Acidentes são inevitáveis, geralmente provocados por falha da máquina. Quando poderia ter sido evitado com uma atitude mais responsável, chamamos de sinistros, justamente para evidenciar que podemos atuar para reduzir esse número de pessoas que perdem a vida ou ficam gravemente feridas quando queriam apenas ir de um lugar para o outro”, reforça o médico especialista em Medicina do Tráfego.
Os dados da PRF revelam que, em 2022, o excesso de velocidade provocou 4.955 acidentes e 753 mortes. O uso de álcool antes de dirigir provocou 4.307 acidentes e 201 mortes no ano passado. “Apesar de anos de Lei Seca e de penas mais duras, o consumo de álcool ainda é uma das infrações mais frequentes. Todas essas mortes poderiam ter sido evitadas”, comenta Coimbra.
Pista simples, perigo duplo
Os dados da PRF revelam que quase metade (49,46%) dos sinistros de trânsito ocorreram em rodovias com pista simples. Rodovias de pista dupla tiveram 41.56% dos registros. “Apenas 8,98% dos sinistros aconteceram em rodovias com pistas múltiplas, um dado importante que revela o quanto rodovias bem estruturadas contribuem para reforçar a segurança viária”, ressalta.
Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte revela que o estado geral da malha rodoviária brasileira piorou em 2022. Dos 110.333 quilômetros avaliados, 66,0% foram classificados como regular, ruim ou péssimo. Em 2021, esse percentual era de 61,8%.