Desde 2020, governo de Helder Barbalho recebe informações privilegiadas sobre operações da PF

Divulgação

Documentos obtidos pela coluna logo após a operação da Polícia Federal deflagrada no Pará para combater desvios de recursos da saúde em Belém e interior confirmam suspeita antiga: o governo Helder Barbalho tem sido avisado, desde o ano passado – às vezes, com bastante antecedência -, sobre todas as operações em que eventualmente possa estar envolvido. No português claro, tem um dedo-duro na Polícia Federal dando as “paradas”. Essa última operação foi marcada pelo vazamento descarado – tanto que, no final da tarde da véspera da operação houve um “Salve geral” no Palácio do Governo, quando “pessoas” foram avisadas para não dormirem em casa naquela noite. Ou seja: o governo sabia da operação, o que representa uma clara desmoralização das ações da PF no Pará.

A prova do crime

No documento enviado à coluna (veja imagem) consta que, no dia 1 de setembro de 2020, quase um mês antes da Operação S.O.S., o lobista e operador Nicolas André, preso na última quarta pela PF, em Capanema, onde reside – não em Paragominas, como saiu aqui -, encaminhou mensagem de áudio a um de seus comparsas dando conta de que fora informado pelo então chefe da Casa Civil Parsifal Pontes, preso naquela ocasião, sobre operação de busca no Edifício Vasco da Gama, em Belém. Ato contínuo, Nicolas André manda “esvaziar” o apartamento, com uma recomendação: “A gente dá fim naquela apê”.

Divulgação

O “Xis9” da questão

Por mais vil que possa parecer – e com todo o respeito -, não se pode negar que a presença de dois agentes e dois delegados federais do governo do Pará sugere relação com as informações privilegiadas oferecidas ao governo. Além dos agentes, a lista inclui ninguém menos do que o secretário de Segurança Pública, Uálame Machado, e o delegado federal Rômulo Rodovalho, que se sustenta no comando da Secretaria de Saúde curiosa e inexplicavelmente à base de decretos que lhe conferem interinidade no cargo mês a mês.  Convém investigar e identificar o X9, ao menos em respeito a esses dois profissionais.

Estranhas relações

Não menos estranhas eram as relações mantidas pelo então todo poderoso chefe da Casa Civil do Governo Parsifal Pontes com o operador e lobista Nicolas André – um homem rico, mas com sérios problemas de saúde e que, segundo confidenciou a amigo recentemente, não estaria disposto a ficar calado se preso fosse. Voltando ao caso, Parsifal Pontes, homem forte do governador Helder Barbalho, usava o cartão de crédito de Nicolas André, acusado de comandar fraudes e lavagem de dinheiro no esquema criminoso das organizações sociais que operavam hospitais regionais e de campanha no governo.

O roubo e as mortes

A contabilidade parcial dos bens adquiridos pela organização criminosa em plena pandemia no Pará também impressiona. Operando a partir de OS responsáveis pela gestão de hospitais públicos e de campanha e empresas quarteirizadas, os negócios incluem apartamentos, fazendas, carros de luxo, gado e aeronaves, uma farra nunca vista em tempo algum no Pará. Os milhões inescrupulosamente desviados por todo o Estado tinham como destino o combate à pandemia, com um detalhe: de abril a junho de 2020, mais de 2 mil pessoas morreram no Pará vítima de Covid-19, muitos por falta de leito nos hospitais

Dinheiro no atacado

O MP foi alertado de que “gordos recursos” do Fundo Estadual de Saúde para suposta aquisição de remédios e atendimento a pacientes do Hospital Regional de Conceição do Araguaia, sudeste do Pará estariam sendo repassados “em penca” aos cofres de uma empresa de Ananindeua chamada Altamed. O que se diz, no entanto, é que a firma nunca entregou medicamento algum, somente notas. Coincidência ou não, a diretora do hospital, Marcela Rodrigues dos Santos, está em Belém, hóspede de um conhecido hotel em São Braz – sua agência incluiria apenas uma visita à Secretaria de Saúde do Estado.

Helder em Mocajuba

O desfecho da anunciada – programada e policiada – visita do governador Helder Barbalho, nesta sexta, ao município de Mocajuba, região do Baixo Tocantins, é tão previsível quanto encontrar vida em Marte. A insatisfação popular é grande, tanto com a administração local, quanto com o governo. Manifestantes prometem se concentrar às 10h30m na orla da cidade, com carro-som e faixas, mas a chegada do governador, com pouso em local incerto e não sabido, deve acontecer por volta do meio-dia. Três helicópteros serão usados pela comitiva, cada um com plano de voo e pouso diferentes, para confundir a população.

Onda de crimes

A presença de policiais militares na cidade, desde a semana passada – não se sabe ao certo se para prevenir eventuais excessos de manifestantes, ou para combater a criminalidade que fez sete vítimas em uma semana -, não conteve a ondas de crimes na cidade. Na última segunda-feira, por exemplo, um idoso foi encontrado morto em um sítio, ampliando a trágica estatística. Enquanto isso, o prefeito Irmão Cosme, do MDB, faz convocação geral de apoiadores com carro, moto, carroça bicicleta para receber o governador.

  • Depois da descoberta de vazamento de informações privilegiadas sobre operações da PF no Pará fica mais fácil entender a causa dos supostos sumiços de dois telefones celulares do governador Helder Barbalho.
  • Aliás, não se sabe a razão pela qual Helder Barbalho ainda não chamou a Polícia às falas. Em um ano, não se sabe de resultados de qualquer investigação  sobre a clonagem dos aparelhos celulares do chefe do Executivo.
Divulgação
  • O lobista e operador Nicolas André (foto), preso pela Polícia Federal em Capanema, usava documentos falos desde abril de 2018. Uma certidão falsa, por exemplo, foi emitida pelo Cartório de Santo Antônio do Tauá.
  • As redes sociais do governador Helder Barbalho passaram praticamente o dia todo caladas, quarta-feira, só voltando a funcionar depois das 17 horas.
  • O presidente do STF, Luiz Fux, ouviu apelos do Legislativo e do Executivo para restabelecer o diálogo com o presidente Jair Bolsonaro.
  • Após encontro com Fux, o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, escreveu em rede social que a harmonia entre os Poderes e a Constituição é “consenso sobre o que nos une a todos”.
  • Reunião do Banco Central com analistas de 42 instituições apontou que gastos em ano de eleição colocam as contas públicas em risco.
  • O presidente Bolsonaro deve enfrentar dificuldades para recuperar popularidade a tempo de disputar a reeleição em 2022, mesmo com ações na área social.
  • Consultoria de risco político mudou sua avaliação sobre o cenário eleitoral. Em maio, considerava que Bolsonaro poderia ter vantagem sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista aparece agora, para a Eurasia, em posição mais confortável.
  • A Eurasia analisa que, quanto mais desgastado estiver o presidente Bolsonaro, mais radical ele será. Já o petista “provavelmente comunicará durante a campanha que eles representam uma opção moderada”.
  • Na tentativa de forjar uma alternativa eleitoral a Bolsonaro e Lula, lideranças de nove partidos fizeram mais uma reunião para “alinhar ideias”. Compõem o grupo de debates PSDB, DEM, MDB, Cidadania, Podemos, PV, Novo, PSL e Solidariedade.